Uma Investigação Sobre a Inteligência das Rochas
Augusto de Lima
Páginas de abertura do volume “Poesias”, de 1909
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Nota Editorial:
No século 19, um discípulo leigo de um
raja-iogue dos Himalaias perguntou ao mestre:
“Cada forma mineral, vegetal, planta, animal, contém
sempre dentro de si aquela entidade que possui a
potencialidade de desenvolvimento até chegar a ser
um espírito planetário? Há neste momento atual,
nesta terra atual, tal essência, espírito ou alma – o
nome não importa – em cada mineral, etc.?”
O mestre deu uma longa resposta, explicando
como isso de fato ocorre. E a resposta do mestre incluiu
estas palavras, ao falar do espírito universal:
“Considere a árvore genealógica da vida da raça humana
e outras de Darwin, mantendo sempre em mente o velho
e sábio axioma ‘como embaixo, assim é em cima’, – isto
é, o sistema universal de correspondências – e tente
compreender por analogia. Assim você verá que nesse dia,
nesta terra atual, em cada mineral, etc., há um espírito. Direi
mais. Cada grão de areia, cada pedra arredondada ou rochedo
de granito é aquele espírito cristalizado ou petrificado.”[1]
E este é o tema do poema a seguir, de Augusto de Lima.
(Carlos Cardoso Aveline)
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O Reino Mineral
Guiado pela luz trêmula de uma tocha,
desci a uma caverna e interroguei a rocha:
“Muda, estéril jazida, onde somente medra
a hera mesquinha, foste, ó pedra, sempre pedra?
Sufocada em carbono, em ciclos sem limite,
choraste sempre assim prantos de estalactite?
Não sentiste da lua o lânguido desmaio?
Nunca o sol te enviou um glorioso raio?
O ar livre, embalsamado em eflúvios suaves,
o ar livre, alma da flor, o ar livre, alma das aves,
não pôde penetrar jamais teu duro seio?
A vida misteriosa alguma vez não veio
uma flor, uma planta, uma raiz trazer-te,
avigorando assim tua existência inerte?
Ó pedra, sempre foste o Prometeu cativo
da inação, sem gozar do protoplasma vivo?”
Mas, ao baço clarão da tocha, extinta quase,
estremeceu, por fim, a pedra em sua base,
e tudo começou a ressurgir da morte,
ao clarão de uma luz interior mais forte.
Um bloco de granito entumecido aumenta
e de acesa esmeralda em árvores rebenta.
Um seixo abre-se em flor, outro enrubesce em fruto
e vasta floração sai do rochedo bruto.
É o reino vegetal em sua plenitude,
na robusta explosão da seiva e da saúde.
Alarga-se o horizonte, e onde quer que se estenda
a vista, um novo mundo imenso se desvenda
de árvores, de animais, de pássaros, de insetos
e de seres, enfim, de múltiplos aspectos.
Monumentos, Babéis, populosas cidades,
esquecidas no pó das prístinas idades,
como num cosmorama [2] ao ressoar da orquestra,
ressurgem ante mim do seio da floresta!
E num deslumbramento enorme, rediviva,
eu vi desabrochar a vida primitiva.
Mas o sol apagou-se, e o archote estava extinto.
Mal pude abandonar o escuro labirinto,
ouvindo atrás de mim, com acento tremendo,
uma voz do interior, que vinha me dizendo:
“Formas, viveis, morreis: somente eu sou eterna.”
Foi assim que falou a rocha da caverna.
NOTAS:
[1] “Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett”, Ed. Teosófica, Brasília, 2001, edição em dois volumes, ver volume I. A pergunta está na p. 284. O trecho citado da resposta está na p. 288. Veja também, em nossos websites associados, o artigo “As Encarnações de Um Poema”, de Carlos Cardoso Aveline.
[2] Cosmorama: série de vistas de vários países observadas por aparelhos ópticos que as ampliam. A palavra também designa o aparelho com que se observam estas vistas.
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O poema acima foi reproduzido do volume “Poesias”, Augusto de Lima, Editora H. Garnier, Rio de Janeiro / Paris, 1909, 300 pp., ver pp. 149-150. A ortografia foi atualizada.
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Sobre o crescimento interior e a transformação pessoal no século 21, leia a obra “O Poder da Sabedoria”, de Carlos Cardoso Aveline.
O livro foi publicado pela Editora Teosófica, de Brasília, tem 189 páginas divididas por 20 capítulos e inclui uma série de exercícios práticos. Está na terceira edição.
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