Examinando o Esforço Teosófico
Nas Primeiras Décadas do Século 21
Oito Teosofistas
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O texto a seguir transcreve um estudo
teosófico ocorrido em março de 2016.
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1. Carlos Cardoso Aveline
Quero trazer aqui uma exposição breve e um convite às reflexões escritas e pensadas de vocês. Peço que cada um examine e responda a cinco perguntas:
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1) Posso observar, no Brasil, em Portugal, no Oriente Médio, nos Estados Unidos, em todo lado, sinais evidentes de decadência ética e falta de visão de futuro saudável? Estes sinais são perceptíveis nas relações políticas, sociais e econômicas, assim como na vida cultural?
2) Esta observação é isenta, e não coloco sobre os fatos qualquer frustração ou impaciência pessoal? Um olhar isento é fundamental.
3) Vejo uma aceleração neste desfazer-se da teia ética que sustenta sempre toda e qualquer sociedade ou civilização?
4) Consigo identificar, ao lado dos sinais de decadência, também sinais positivos de renascer e de renovação da vida no que ela tem de puro, honesto e de belo?
5) Como tenho lidado com este processo num plano pessoal? Tenho uma estratégia consciente de ação? Ou, alternativamente, quais poderiam ser alguns elementos para uma estratégia minha eficaz?
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Para ampliar a visão desta “consulta”, trago aqui um breve artigo publicado no “Teosofista” de julho de 2015:
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Quatro Níveis de Placenta:
Preparando o Parto Planetário
Uma placenta cármica sutil e a sua “bolsa amniótica” evitam que o nascimento da civilização fraterna do futuro ocorra antes que todos os elementos necessários estejam prontos para o acontecimento.
Um dos sinais de que começa um trabalho de parto é a ruptura da bolsa amniótica e a perda do líquido que contém a vida na fase da gravidez e garante a sua preservação. Assim como no plano individual, o nascimento de uma civilização é uma bênção, e um perigo.
Desde as últimas décadas do século 20, o elemento detonador central do nascimento de uma fase nova do desenvolvimento humano tem pelo menos quatro aspectos, que são, não necessariamente nesta ordem:
1) O perigo provocado pela proliferação nuclear;
2) A crise ambiental, climática e geológica;
3) O processo socioeconômico e financeiro;
4) A consciência ética-espiritual e o despertar da boa vontade em escala planetária.
O ponto de ruptura que inviabiliza a continuação do egoísmo e da hipocrisia como princípios da organização social é um, e é múltiplo, ao mesmo tempo. Os seus quatro aspectos principais se aceleram de modo interligado.
O aspecto interdependente desta aceleração, no entanto, está abaixo da superfície dos acontecimentos visíveis.
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Até aqui, o texto sobre os quatro níveis de placenta.
Aguardo comentários. O mais importante é que cada um ouça o seu próprio coração. Nossa responsabilidade é maior do que parece, e não por acaso um dos nossos lemas é “melhorando sempre”. O Carma exige isso.
2. Joaquim Soares
Agradeço por este convite para refletir sobre a atual situação planetária e a importância do nosso trabalho e do esforço de cada um de nós. Este exercício é importante e decisivo. Partilho aqui alguns pensamentos sobre os pontos levantados:
1) Eu observo na Europa, no Médio Oriente, nos Estados Unidos, no Brasil e em outros lugares, sinais claros de uma acelerada decadência ética. Esses sinais são evidentes desde o mundo da política passando pelo sistema econômico-financeiro, ao nível social e educativo, assim como na própria cultura que, a meu ver, atingiu um grau de considerável estupidificação. A nível ecológico obviamente que o padrão é o mesmo. Em muitas áreas existe já uma completa falta de sentido. Percebo que em geral não existe uma visão saudável do futuro humano e o atual momento planetário é muito delicado.
2) Esforço-me para que a minha observação seja isenta, e eu estou em crer que ela o é. Procuro observar de forma impessoal os fatos e as evidências que vou investigando.
3) Sim, eu vejo uma aceleração nesse desfazer da teia ética. Eu diria até que essa aceleração tem sido exponencial nos últimos tempos.
4) Aqui e ali eu consigo perceber um movimento regenerativo da vida, ainda silencioso e limitado, que se manifesta em muitas pequenas iniciativas locais em vários países. Cidadãos de boa vontade vão aos poucos abandonando modos de vida que já não são sustentáveis e optando pela vida simples, pela cooperação e pelo respeito pela natureza. Grupos de cidadãos vêm agindo com crescente criatividade e criando pequenas estruturas comunitárias de um novo tipo. Cidadãos honestos vivem de forma correta e procuram trazer justiça e ética para as relações entre pessoas, organismos sociais, políticos e outros.
5) O plano pessoal reflete em si aspectos dos próprios desafios civilizatórios, no sentido em que fazemos parte da grande família humana e o nosso carma é o carma da humanidade, no que ele tem de desafios e de oportunidades para o desenvolvimento de potencialidades divinas.
Os testes e os desafios têm surgido, alguns de forma recorrente, pois a lição não foi aprendida e a perseverança e a vontade precisam ser desenvolvidas.
A consciência da necessidade de possuir uma estratégia eficaz tem crescido, em muitos aspectos graças à ajuda mútua que existe dentro de nosso trabalho. Todos vamos crescendo no processo e aprendendo uns com os outros. Um tipo de estratégia pode ter sido útil para avançarmos numa certa fase de nosso percurso. Chegados a outra etapa, é necessário aprimorar a forma como avançamos, e adaptar ou até criar um nova estratégia para alcançar nossos objetivos.
Tem sido muito importante e transformador tomar consciência mais profunda dos mecanismos subconscientes que procuram boicotar uma atitude vitoriosa. Vamos ultrapassando aos poucos as limitações e abraçando com entusiasmo a tarefa de viver a cada dia mais serenos, focados, assumindo com alegria a responsabilidade pelo futuro da humanidade.
Tenho perguntado a mim mesmo se estou fazendo tudo o que posso para ajudar no despertar planetário, e até que ponto eu estou plenamente consciente da minha responsabilidade. Pensar sobre isto tem sido tão inquietante e incômodo, como desafiador e motivador.
Por agora fico por aqui. Quero continuar a refletir mais. Está sendo importante pensar com calma nas questões trazidas e nas suas implicações para o meu esforço e como eu devo planejar minha estratégia para ser um operário cada vez mais eficiente, e um pioneiro.
3. Carlos Pasinato
Agradeço por este estudo ser uma excelente oportunidade para tecer considerações a respeito do que vejo e sinto em relação ao movimento e à humanidade.
1) De fato, a falta de ética se apresenta cada vez mais forte por todos os lados da civilização atual e de maneira abrupta promove a decadência de governos, instituições e povos. Sendo assim, os frutos colhidos não estão corretamente alinhados com o que é ético. A cultura, assim como qualquer expressão do “Homem sem ética”, está à deriva num mar de desejos, egos e sentimentos mesquinhos, até sensuais (é lógico que não podemos generalizar).
2) Com o incessante exercício de autoesquecimento e anulação dos sentimentos pessoais obtemos um olhar “maior” sobre a vida e conseguimos ver acima das opiniões e ações com base em interesses pessoais ou de grupos que não sejam a favor da evolução humana. A visão se aperfeiçoa quando nos aliamos ao objetivo fraternal, altruísta e de respeito para com o ser humano e suas relações consigo mesmo e com sua moradia, o planeta, o universo. O máximo de anulação do ego traz um olhar mais isento.
3) É notável a ruptura da teia ética que ainda sustenta parte das relações na civilização.
4) Durante a decadência total e absoluta da civilização, alguns indivíduos ou mesmo grupos se movem no sentido contrário, a expor os erros e propor o sentido correto. Sempre houve muitos sábios e aqueles que de alguma forma despertaram para a realidade.
5) Neste cenário de “caos” na sociedade pretendo continuar em adquirir conhecimento, no esforço de autoaperfeiçoamento em busca da paz-ciência. Somente neste caminho podemos exercer um domínio “mais correto” de nossas ações.
Em minhas considerações pessoais, pelo estudo e conhecimento, mesmo que ainda saiba pouco do esoterismo e sobre a teoria das raças, e por um sentido interno, creio que a nossa civilização atual e a civilização de milênios atrás são idênticas quanto ao seu problema de ética. Isso não é um problema novo.
Vejo que nos dias atuais a decadência é muito mais forte, em relação a dezenas de séculos atrás, devido aos desejos, egoísmo, inveja, exacerbados pela própria cultura de consumo cada vez mais atuante, o que acaba por promover e alimentar as partes menos nobres do ser humano.
A Teosofia é colocada como a ciência-religião-filosofia do futuro. O avanço correto da ciência se dará conforme o avanço do aperfeiçoamento do homem, pois as leis que operam no universo serão compreendidas e as tecnologias serão melhor alinhadas em benefício da humanidade. Hoje vemos que a tecnologia atual é usada para fins funestos e mais, acirrando as competições de consumo. E a “moeda”, como meio de conseguir realizar os sonhos, desestabiliza ainda mais o homem.
Por outro lado, esta mesma tecnologia é usada por setores da humanidade como ferramenta para a disseminação da ação correta e para a reflexão interna daqueles que de certa forma despertam para uma realidade superior. Hoje vemos um mutirão para promover a paz, a ecologia, a sustentabilidade, a igualdade, o crescimento da humanidade como uma fraternidade.
No meu entendimento, tudo vai piorar até um ponto praticamente insustentável em que de certa forma se poderá desencadear uma reação planetária à altura. O ser humano terá de exercer todo seu lado desequilibrado até que morra nele mesmo a sua decadência, adubando o que nascerá no futuro. A dor e sofrimento, assim como a ganância e o egoísmo serão vividos ao extremo até que o homem decida retirá-los definitivamente de si mesmo.
Hoje o ser humano não busca a reflexão, ele opta pelo pronto. As dores e sofrimentos são parte de sua vida e ele já está acostumado.
Mesmo pessoas que buscam a espiritualidade têm uma dificuldade e quase nenhum interesse por algo que exija reflexão, raciocínio, desapego.
Acredito que na América do Sul e no caso do Brasil, a busca pela sabedoria-filosofia acontece para poucos simplesmente por não ser cultivada a educação que leva a uma reflexão. No entanto a aceitação da pseudoteosofia e suas manifestações “fantásticas” é alta.
As relações estão tão corrompidas de uma forma geral, que quando alguém age de maneira altruísta, de forma correta e buscando o aperfeiçoamento das relações dentro de um grupo, isso é “algo” que pode incomodar. Neste contexto, a aplicação do conteúdo do texto “A Eficiência no Trabalho em Grupo” [1] se encaixa para auxiliar o trabalhador que se propõe a viver o correto e generoso. Tão bem auxilia neste caso quanto dá orientação em várias situações envolvendo o “relacionar-se”.
A minha impressão quando compreendi melhor a Teosofia foi que seria mais fácil disseminar seu conteúdo mais potente e transformador para outras pessoas. Engano meu. Não gosto de ser pessimista, mas agora compreendo bem o fato de que as ações e ensinamentos corretos dos mestres, dos teosofistas e HPB, são um ponto a ser alcançado pela humanidade. De certa forma a humanidade terá de se elevar para buscar a teosofia, a Teosofia não necessariamente terá de “descer” para salvar a humanidade.
Que busquemos ser melhores para ajudar e dar um exemplo a ponto de despertar os que nos rodeiam. Sigamos em nossa transcendência alquímica ao deslumbrar cada vez mais no alto uma porção da Verdade Universal.
NOTA:
[1] Disponível em nossos websites.
4. Arnalene Passos do Carmo
Agradeço pelo tema apresentado e pelas outras excelentes contribuições.
Estamos num momento que exige serenidade e o esforço maior de todos, e principalmente para quem conhece a lei dos ciclos. Quando compreendemos a evolução cíclica com sua constante renovação, repetindo-se nas devidas proporções desde o mais elevado até o menos desenvolvido ser, nos recolhemos na convicção de que Aqueles que guiam e sabem estão na linha de frente.
A teosofia explica que civilizações chegam e partem e a cada etapa, há novas lições e maior desenvolvimento.
Estamos atualmente avançando em polos bem nítidos. Os acontecimentos mostram de um lado uma degradação moral sem precedentes e do outro, um número cada vez maior de pessoas fraternas e cuidadosas com o planeta e com tudo que nele evolui. Crianças chegam com mais consciência que seus pais. Uma geração mais ecológica e respeitosa com a vida cresce entre nós.
Eles chegam prontos em coisas que são difíceis para esta geração que envelhece. É muito lindo aprender com crianças e com jovens. É um aprendizado leve. De forma doída no entanto aprendemos com o que não devemos fazer. Com este aprendizado enxergamos como se reproduz a ignorância, alimentada pelo egoísmo que desonra a condição humana.
Vivendo na realidade brasileira, me esforço para não entrar na energia pesada de revolta e confronto que paira no país. A luta é atenta porque quando menos esperamos, somos abordados com imagens, piadas e discussões em nosso círculo de relacionamentos. Fazer o melhor possível principalmente em condições diversas, tem sido uma lição viva na vivência do ensinamento. Não é sempre que tiramos boa nota e nestas ocasiões, o aprendizado é ainda mais vivo.
Em nosso primeiro encontro de equipe em Brasília, anos atrás, foi questionado por diversas vezes: “Como seria carregar o mundo nas costas?” Penso que as perguntas “o que mais está ao meu alcance fazer”, e “em qual esforço posso ir além do possível” começam a ser repetitivas e a incomodar demais. Umas poucas gramas do mundo chegam aos nossos ombros e, ao invés de tristeza, somos tomados por um entusiasmo não conhecido até então. É hora de fazer mais e ir além do possível. Cabe ouvir e ser conduzido pela consciência que fala sem palavras.
O parto é eminente e a hora soa. O foco é a quarta ruptura. Sinto que basta um fio de luz para dissipar toda uma densa nuvem no coração de cada ser humano. Nesta certeza devemos trabalhar incessantemente. Quero ressaltar estas palavras:
“Um grupo humano em que predomina a boa vontade reeduca a todos no sentido de dissolver as causas do sofrimento e despertar a luz da intuição divina.” [1]
Gratidão por este grupo e pelos nossos encontros toda semana.
NOTA:
[1] Do texto “A Eficiência no Trabalho em Grupo”, de Carlos Cardoso Aveline, publicado em nossos websites associados.
5. Joana Maria Pinho
Agradeço pelo estudo e pelos excelentes comentários.
A decadência social e o despertar ético têm acelerado. As bases da civilização atual estão ruindo mas novas bases e uma melhor civilização vêm sendo construídas. Não há motivo para desânimo. Carlos escreveu:
“As civilizações passam: o ser humano permanece, renascendo sempre.” [1]
Os ciclos menores estão ligados aos grandes ciclos. Renascemos todos os dias e cada renascimento traz a oportunidade para fazer melhor. Nosso esforço deve ser dirigido para aquilo que faz realmente diferença – a ética, pois como Blavatsky ensinou:
“…A Ética da Teosofia é muito mais importante que qualquer divulgação de leis e fatos psíquicos. Estas leis e fatos se referem inteiramente à parte material e passageira do homem setenário, mas a Ética é absorvida e guia o homem real – o eu superior reencarnante.” [2]
No mundo inteiro vejo sinais evidentes de decadência ética e falta de visão de futuro saudável. No entanto, também vejo um grupo crescente de indivíduos cultivando o futuro luminoso. Penso que esse contraste reflete de certa forma a luta interior daqueles que buscam a verdade.
A eficiência do trabalho coletivo depende do esforço de cada um de nós no sentido do autoconhecimento e da alquimia interior. Estamos já fazendo muito pelo despertar da ética e penso que mais pode ser feito. Sem cobrar dos outros, mas cobrando de nós mesmos aquilo que sabemos ser correto e que ainda não fazemos.
Pessoalmente, penso que posso fazer muito mais, sobretudo no plano interno. Reconheço parte das minhas limitações e sei o que deve ser feito para ultrapassá-las. Então por que adio dar novos passos?
Devo respeitar o ritmo com que absorvo e assimilo os ensinamentos. Porém, pela vontade, pela pureza e perseverança, o ser humano é capaz de realizar o extraordinário. Como Blavatsky escreveu: “…A autoconfiança é o primeiro passo para aquele tipo de vontade que faz mover uma montanha.” [3]
Refletir sobre o propósito da nossa vida, sobre o trabalho que desenvolvemos e a nossa responsabilidade, desperta-me ainda mais para a decisão tomada no meu coração de dedicar minha vida à causa teosófica. Esse compromisso ocorreu fortemente nos níveis superiores da consciência. Agora vejo que esse compromisso precisa ser reafirmado diariamente para que todos os aspectos da minha consciência trabalhem nesse sentido. É certo que os votos com o eu superior funcionam por osmose. Mas é necessário que eu não boicote esse processo e trabalhe em todos os sentidos para ser de fato um instrumento a serviço da vida.
Até que ponto aceito a tarefa de carregar o mundo? Sei cuidar de mim ao ponto de conseguir cuidar dos outros? Estou disposta a colocar de lado medos, fantasias e ambições pessoais? Carregar o mundo não significa abdicar de mim. Cada um de nós é também o mundo que carrega. No entanto se eu pensar apenas no meu conforto, na minha jornada pessoal, desvio a atenção e a energia para o chão em vez de colocá-las em frente e para o alto.
Tenho pensado sobre o que preciso para dar o salto. Não um salto cego e num vazio, mas um salto da natureza que o Corpus Hermeticum coloca:
“Mediante um salto que supere todos os corpos, adquire a condição do que é imenso. Supera todos os tempos, converte-te na própria eternidade! Então poderás compreender Deus [a Lei]. Aceita a ideia de que nada é impossível para ti.” [4]
Carlos escreve no texto “Sabedoria Hermética no Século 21” sobre o que é necessário:
“À medida que o indivíduo se liberta da ilusão das formas externas, ele aprende a navegar no oceano insondável e sem limites da verdade suprema. No mundo externo, ele se afasta gradualmente das ilusões teológicas criadas por igrejas. Ele passa a vivenciar pessoalmente uma ética universal que resulta da percepção da sua própria unidade individual com todos os seres. Ele sabe que o universo é um ecossistema. Assumindo responsabilidade por seus atos e por tudo o que lhe acontece, ele abandona a ignorância espiritual para cruzar o portal da gnose, o conhecimento sagrado, a sabedoria divina ou theos-sophia, que o liberta gradualmente dos ciclos de vida inconsciente.” [5]
O subconsciente tanto pode ser o nosso melhor amigo como o nosso maior inimigo. Devemos ampliar o olhar interior e ver os aspectos belos e menos bonitos do nosso ser. Não é fugindo da feiúra que ela deixa de existir. Reconhecer e observar a feiúra são passos fundamentais para que ela seja transmutada em beleza. O ouro alquímico não está escondido numa montanha ou na bacia de um rio. Sua descoberta não é fruto do acaso. Ele se obtém transmutando materiais inferiores. Isso requer estudo, prática, tentar sempre o melhor na direção da ética e da pureza original.
Como muitos autores afirmam, devemos ser o que queremos ver no mundo. É dessa forma que a humanidade se transforma e avança. Somos o mundo e o mundo é o que cada um de nós cultiva em seu interior.
NOTAS:
[1] Do texto “A História Secreta da Humanidade”, de Carlos Cardoso Aveline. Disponível em nossos websites associados.
[2] Palavras de HPB citadas no texto “Não Há Religião Mais Elevada que a Verdade”, de Carlos Cardoso Aveline.
[3] Do artigo “Extracts From Private Letters”, de Helena P. Blavatsky, que pode ser encontrado em nossos websites associados.
[4] Palavras citadas no texto “Sabedoria Hermética no Século 21”, de Carlos Cardoso Aveline, disponível em nossos websites.
[5] Do texto “Sabedoria Hermética no Século 21”, citado acima.
6. Silvia Caetano de Almeida
Gratidão pelo estudo extremamente valioso e pelos comentários enriquecedores.
Estamos vivendo dias difíceis, em que a falta de ética e a corrupção são vistas como algo quase natural por muitas pessoas, exatamente por faltar conscientização entre os seres humanos que ainda se encontram em um sono profundo. E isto se torna mais grave quando ocorre entre aqueles que se encontram na liderança de grupos e nações.
Os questionamentos quanto à nossa contribuição para o despertar e o bem-estar da humanidade são profundamente pertinentes.
Há muito por aprender, por crescer e por desapegar-se. É imperativo que aqueles que vislumbram o despertar da nova era mantenham o padrão luminoso da verdade acima das contingências, que são passageiras. Um futuro ético está sendo construído. E cada um pode ser um centro de paz, a partir do qual muito pode ser melhorado.
Agradeço pela oportunidade de refletir em grupo: para mim é uma bênção.
7. Regina Maria Pimentel de Caux
Agradeço por esta oportunidade de refletir e compartilhar a nossa visão do movimento atual e do nosso trabalho a partir das indagações apresentadas.
1) Vivemos mundialmente uma crise política, econômica, cultural e institucional, devido à ausência de referenciais éticos e morais, pilares para a vida em sociedade. Valores essenciais não são levados em conta. Percebe-se muitas queixas, denúncias, manifestações, impulsos, violências, omissões, contradições. E, por outro lado, uma busca de respostas, apurações, julgamentos, crescimento ético. Podemos ver movimentos ativos que fazem o bem por meio de práticas altruístas.
2) Estou-me esforçando para observar de forma impessoal.
3) Vejo esse desacelerar da teia ética. A globalização acentua tudo isso. Até doenças antes superadas retornam e criam outras como a dengue, zika, chikungunya, dentre outras. Talvez estejamos no ápice da falta de ética.
4) Vejo mudanças revolucionárias que estão ocorrendo e reconhecem a sabedoria da reforma, da transformação, da cooperação, da preservação da casa comum. Posso ver uma ética real da vida humana se instalando e espalhando com as mais diversas iniciativas em várias áreas. E outros impulsos surgindo.
5) Creio que é hora de lembrar não só o que foi feito mas o que faremos em seguida. Melhorar o nosso carma e o da humanidade. A relação conosco mesmo e com o outro é um espaço rico para a prática da ética. Os desafios estão aí e é preciso atenção, perseverança e viver à altura dos nossos mais elevados valores.
Todos temos responsabilidades reais com o mundo. Temos aprendido e ensinado uns aos outros. Algumas limitações foram superadas trabalhando-se num espírito de busca do autodesenvolvimento, de esforço, trabalho cooperativo; mas, pessoalmente, tenho outras limitações a enfrentar e superar. A busca de resposta pede discernimento e responsabilidade.
Tenho me perguntado até que ponto me responsabilizo pela comunidade local, nacional, global. Juntos podemos encontrar alternativas e insights criativos.
Vou refletir mais sobre essas questões, e sobre como posso avançar no trabalho e progredir no esforço.
8. Emanuel Machado
Agradeço a possibilidade de estar presente entre os amigos atentos, podendo partilhar impressões acerca das vivências de cada um. As contribuições dos amigos, tanto neste espaço como no e-grupo SerAtento e nas redes sociais – nas quais eu já interajo com alguns – constituem valiosas lições que estão colaborando significativamente no desenvolvimento de minha pacificação interior.
Sou sinceramente grato.
Passo agora a contribuir com algumas reflexões acerca das questões colocadas:
[1.Posso observar sinais evidentes de decadência?]
Sim. Nas últimas décadas verifica-se que ocorreu e ainda ocorre uma sensível decadência de valores. Falando do meio em que vivo, vejo que há muito poucas décadas o homem era capaz de extrair todo o sustento físico e espiritual que precisava da própria natureza, possibilitando isso que ele levasse uma vida saudável e longeva. Tal contato com a natureza se configurava como um convite à contemplação e ao recolhimento sobre si mesmo. O homem era mais capaz de ouvir sua voz interior, e inestimáveis discursos proferidos pelo ir e vir das marés, pela lua brilhante sobre os rios, pelo curso dos ventos e das nuvens, e pelos próprios animais. Infelizmente, os projetos industriais de desenvolvimentismo da Amazônia trouxeram consigo o “progresso” e o consequente afastamento do homem, da natureza e de si próprio. Essa é uma longa e triste história. Atualmente a ignorância transformou as cidades em ambientes hostis à civilidade.
Acredito que no mundo como um todo a degradação de valores se processe de modo semelhante, haja vista as notícias que nos chegam através dos meios de comunicação, sejam eles isentos ou não de interesses. Os conflitos que se alastram pelo mundo, ocasionando atrocidades genocidas e crises com refugiados, os atentados ao meio ambiente, o crime generalizado contra a pessoa humana e contra a cultura clássica, a degradação política e social, são tristes exemplos de que a humanidade não consegue lidar com a ignorância de uma enorme massa populacional. Mesmo os governos mais bem-intencionados e organizados têm dificuldades em gerir uma grande massa humana órfã. Um bom referencial sobre o estado de coisas consiste no nível de educação e de cuidados que são proporcionados às nossas crianças. Está tudo bem com elas?
Verifica-se, inclusive, que a própria natureza reage ao atual estado de vibração da humanidade.
Por todo o exposto, entendo que de fato a humanidade chega a um grande ponto de ebulição, em que ocorrerão sensíveis e dolorosas mudanças.
[2.Esta observação é isenta?]
As observações que faço partem de uma perspectiva realista dos fatos. Procuro ter isenção, tentando observar os fatos como são. Apenas vejo o quanto a humanidade órfã sofre. Acredito que a visão correta das coisas parte de uma perspectiva serena, sob o olhar do Eu Superior.
[3.Vejo uma aceleração no desfazer-se da ética?]
A dinâmica social deste início do século chega a ser surpreendente. A exploração dos recursos naturais, a evolução tecnológica, a densidade demográfica, a concentração de recursos, o acirramento de conflitos, crescem aceleradamente. O espaço para a teia ética, que deve permear as relações sociais e o estado como um todo, deixa de existir na mesma velocidade. Isso de fato é perceptível.
[4.Consigo identificar também sinais positivos de renascer da vida no que ela tem de puro e honesto?]
Sem dúvida existem sinais positivos de renascer, bem como sinais de que muitos valores nunca deixaram de estar presentes na humanidade. Quantos de nós não convivem com, ou conhecem, pessoas confiáveis, justas, determinadas e virtuosas? Quantos abnegados que conhecemos não contribuem voluntariamente para promover ações altruístas? Posso falar pelas pessoas com quem tive contato e que de fato confio que assim o são. Boas pessoas existem, meu coração já as viu.
Nossa sociedade também fornece exemplos de tentativas de se civilizar. Iniciativas populares procuram promover ações coletivas de defesa social, preservação e defesa do meio ambiente, promoção da cultura e da Sabedoria, e de amparo aos necessitados. Os exemplos que vemos são muitos. E nos enchem de esperança em um futuro despertar da consciência coletiva do povo brasileiro. O Brasil luta por civilidade. O largo arcabouço legal de nosso país não é um exemplo disso? Nosso legislativo, embora alvo de ampla e notória degradação ética, ainda foi capaz de organizar, ao longo de décadas um sistema de leis, ainda carente, é verdade, de aperfeiçoamento, mas que procura primar pela defesa social e do meio ambiente. São exemplos o Código Florestal, a Lei de Crimes Ambientais, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto do Idoso, o Código de Defesa do Consumidor, a própria Constituição Federal, e tantos outros dispositivos legais que se fossem plenamente observados, seriam capazes de tornar o Brasil um país melhor.
É necessário que membros dos três poderes da República se façam imbuir de referenciais virtuosos e espirituais, a fim de que desempenhem seu sagrado papel de custodiar o estado e promover a civilização, de forma altruísta e visando o bem comum.
[5.Como tenho lidado com este processo?]
Meu projeto de vida visa contribuir positivamente com o carma da humanidade. Consigo ver três frentes de trabalho. A primeira se constitui em servir ao Eu Superior, na forma de identificar e combater vícios, reconhecendo as virtudes que lhes fazem frente; ler, estudar e reverenciar os clássicos, principalmente os Mestres da Sabedoria; meditar e desenvolver a atenção, ouvindo a voz do Eu Superior, adquirindo a serenidade para obter lições das experiências positivas e negativas que se apresentarem.
Uma segunda frente de contribuição, a qual julgo ser consequência da primeira, é a constante vigilância necessária à prática de tudo o que se aprende. Por fim, e mais importante, vem a consciência de que o desenvolvimento espiritual coletivo se sobrepõe a todo o resto. É necessário apresentar a Teosofia a todos, seja na forma do exemplo pessoal de cada um ou de maneira direta, com a apresentação de textos clássicos aos interessados. Mas sobretudo passa por contribuir, mesmo que minimamente, para que todos os seres possam desenvolver suas potencialidades latentes, tornando-se um pouco melhores e mais felizes.
9. Conclusão
Agradeço pelas respostas e reflexões, escritas e pensadas. Elas enriquecem a minha pesquisa do processo que a humanidade vive. Aprendo com elas. Penso que este diálogo deve continuar presente em tudo o que fazemos, de modo falado e também no plano contemplativo. O estudo desta semana mostra novos aspectos da nossa responsabilidade compartilhada. Foi importante para mim ver nos testemunhos de vocês uma confirmação independente de grande parte do que eu também julgo perceber no carma atual da nossa civilização. Encerro o estudo dando parabéns a todos pela profundidade e pelo conteúdo dos testemunhos. E agradeço pela loja teosófica pioneira que vocês e os outros associados constituem.
(CCA)
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Leia também o artigo “Eficiência no Trabalho em Grupo”, de Carlos Cardoso Aveline. O texto pode ser encontrado em nossos websites associados. Para acelerar a reação em cadeia do despertar individual e planetário, escreva para lutbr@terra.com.br e pergunte como pode participar do esforço teosófico.
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Veja aqui um vídeo de um minuto, produzido pelos nossos websites associados:
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