Busca da Sabedoria Provoca Uma
Luta Intensa na Alma do Estudante
Joana Maria Pinho
Diversas tradições comparam a busca espiritual a uma guerra e o guerreiro ao peregrino espiritual. Os inimigos com os quais o guerreiro luta são alguns dos seus próprios pensamentos e sentimentos. O combate tem lugar no mundo interno daquele que busca o bem.
As guerras no mundo físico e os diversos conflitos entre os seres humanos resultam de guerras interiores evitadas ou mal resolvidas. Não devemos fugir dos conflitos internos. Devemos, sim, aceitar o grande propósito da vida: aprender. A aprendizagem traz a vitória do bem e dela resulta uma civilização amorosa e solidária. Olhar para a vida como uma grande escola e ver nos outros os nossos companheiros de aprendizagem é uma das chaves para o fim de todas as guerras.
Aqueles que estudam teosofia de forma vivencial tentam dar expressão ao Eu Superior, travam uma luta pela verdade, desafiam os dogmas e buscam conquistar o bem – o espaço habitado pela paz e pelo amor da Alma Imortal. É necessário que o estudante trave e vença grandes batalhas antes de se transformar em um centro de luz. Podemos dizer que o caminho do aspirante ao discipulado é também o caminho do guerreiro.
O livro “Três Caminhos Para a Paz Interior”[1] apresenta ao leitor uma visão do guerreiro e das lutas que o aguardam, apontando para os passos que levam à vitória. A Parte Um do livro é dedicada ao Caminho do Guerreiro. Vejamos algumas questões e como elas são abordadas na obra.
1) O que é o guerreiro em nós?
“… O guerreiro é aquela parte central do nosso eu que é leal à verdade e ao bem, independentemente de sentir prazer ou dor, de enfrentar vitória ou derrota e de receber homenagens ou humilhações.” (“Três Caminhos”, p. 39)
“O guerreiro em nós é, na verdade, a energia de ação que reveste o eu superior quando ele está presente nos mundos concretos da consciência.” (p. 42)
2) Onde e quando se dá a luta?
“Não pergunte onde, nem quando, se dá a luta entre o bem e o mal. Ela ocorre dentro de você, o tempo todo. A vitória do bem é certa, e resultará do gradual crescimento interior da bondade e do discernimento em seu coração.” (p. 27)
3) Qual é o grande combate? E que armas são usadas?
“Para o guerreiro da luz só existe conflito entre duas faixas vibratórias: a da paz e a da desarmonia. O objetivo estratégico do bom guerreiro é manter a paz interior em todas as situações. As armas que ele usa são, entre outras, o desapego, o silêncio, a gratidão, o perdão, o autoconhecimento e a renúncia. As armas do inimigo são a indulgência, a vaidade, a preguiça, a teimosia e outras frequências vibratórias que escravizam o ser humano ingênuo às causas do sofrimento. Esse é o grande combate da vida: a guerra entre luz e sombra que se desenvolve dentro de cada cidadão.” (p. 21)
“É na alma do aprendiz que se dá a grande guerra entre luz e sombra. O campo de batalha é o eu inferior. De um lado, lutam os setores da nossa personalidade mortal que são leais à tríade imortal. De outro lado, os setores da nossa personalidade que gravitam em torno da nossa alma animal, e que estão interessados principalmente em preguiça, prazer e poder pessoal.” (pp. 97-98)
4) Como alcançar a vitória?
“O caminho da vitória requer que estejamos livres do passado e de tudo o que pensamos conhecer, e abertos para trilhar caminhos novos e conviver com o desconhecido.” (p. 26)
“… O constante reexame das premissas do nosso pensamento é fundamental. A eficácia do guerreiro depende de que a sua visão estratégica e tática tenha bases sólidas e que ele não aceite nada como premissa inconsciente. Ponto de partida de todo raciocínio ou avaliação, a premissa é essencial. O guerreiro identifica e rompe as redes de manipulação, hipnotismo, ilusão e falsas premissas existentes ao seu redor, e tem, nisso, um elemento essencial para a vitória. (…) Um princípio (…) é não ser escravo de jogos de mentiras, e tampouco usá-los para seu proveito pessoal. Ao mentir, o guerreiro destrói seu próprio poder interior. Toda a força do guerreiro vem da sinceridade.” (p. 48)
“… Quem busca a paz interior deve estar disposto a saborear a derrota. Ninguém alcança uma vitória madura e durável se, antes, não experimentou serenamente várias tonalidades de derrotas. ‘Não existe derrota, na verdade: a única derrota é desistir de tentar’, escreveu um sábio. Quando podemos viver a derrota sem desespero ou autopiedade, mas serenamente, somos capazes de transformar o fracasso em lição e seguimos adiante, livres para sintonizar com a energia da vitória. A grande pergunta que o guerreiro espiritual se faz a cada momento é: ‘Estou tentando? Estou fazendo o melhor que posso?’ ” (p. 40)
A obra “Três Caminhos Para a Paz Interior” tem três partes. O Caminho do Guerreiro é um trajeto fundamental para todos os aprendizes. Mas a busca espiritual passa também pelo Caminho do Autoconhecimento e pelo Caminho da Renúncia às Ilusões. [2] Estes três caminhos se interligam e juntos conduzem o aprendiz à paz interior e à fonte da bem-aventurança.
Através do autoconhecimento nos capacitamos para renunciar às ilusões: dele surge a compreensão de que as dificuldades para avançar não estão no caminho, mas naquela parte de nós que se limita através do egoísmo. “Todos querem alcançar o êxtase e a bem-aventurança espiritual, mas quantos estão dispostos a fazer o seu dever-de-casa?” [3] As conquistas nunca são instantâneas e “fazer o melhor que pudermos a cada instante é o segredo da vitória.” [4]
A guerra interna deve ser travada com coragem e sabedoria. A meta é que a luz vença em todos os territórios e em todos os seres.
NOTAS:
[1] “Três Caminhos Para a Paz Interior”, de Carlos Cardoso Aveline, Editora Teosófica, Brasília, 2002, 191 pp.
[2] “O Caminho do Autoconhecimento” e “O Caminho da Renúncia às Ilusões” correspondem às partes dois e três da obra “Três Caminhos Para a Paz Interior”.
[3] Obra citada, p. 77.
[4] Obra citada, p. 145.
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O texto acima é reproduzido da edição de janeiro de 2015 de “O Teosofista”, páginas 11 a 13.
Na ilustração que abre o artigo, vemos ao lado da capa do livro um escudo e espadas dos guerreiros Rajput, na Índia, que assumem compromissos solenes em nome dos seus escudos. A fonte da imagem é a obra clássica “Annals & Antiquities of Rajasthan”, de James Tod, edited by E. Jaiwant Paul, Roli Books, New Delhi, 2008.
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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.
Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.
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