Trabalho Teosófico Estimula Buddhi-Manas
Carlos Cardoso Aveline
Calma e silenciosamente, a Loja Independente de Teosofistas trabalha pela regeneração humana.
A LIT procura ser um campo de compreensão e vivência da lei da fraternidade universal. A sua influência cresce de um modo tão lento que é quase invisível. E cabe examinar por que motivo a lentidão é vista como necessária. O mundo não enfrenta problemas graves e urgentes? Eles não são suficientes para que haja pressa?
A vida mostra que há uma grande diferença entre fazer propaganda em torno de certas ideias e provocar uma efetiva conscientização. As palavras e as mensagens de propaganda podem ser conhecidas por todos em pouco tempo. O mesmo não ocorre com a sabedoria universal.
A transmissão da sabedoria depende de uma sintonia interior que transcende as palavras, embora as use e as preserve como instrumentos valiosos. A produção e transmissão de sabedoria depende do despertar de uma forma específica de inteligência. Trata-se da inteligência buddhi-manásica ou universal.
É em buddhi-manas que, como a palavra indica, a percepção mental, manásica, se une a buddhi, a inteligência espiritual. Buddhi-manas é aquele ponto da nossa consciência em que percebemos a unidade essencial de todos os seres. Esta unidade pode ser voluntária ou involuntária. Pode dar-se em torno de erros ou em torno de acertos. Pode ser harmoniosa ou conflitiva, e talvez seja percebida, talvez não. Mas ela existe e opera sempre, sem exceções.
A consciência universal das coisas constitui a chave-mestra para libertar a humanidade dos seus problemas atuais. Ela abre um novo horizonte de evolução, cuja base mais sólida inclui os princípios da moderação com firmeza, do apoio mútuo, e do respeito por todos.
Esta consciência já começa a despertar com força na mente humana. Ao fazer isso, ela se depara com todo um velho mundo organizado rigidamente a partir de noções medievais de separatividade, quase sempre encobertas por hábeis discursos sobre democracia, ciência, “fé em deus” e “espiritualidade”.
Aberta ou sutilmente a visão fragmentária da realidade afirma que esta ou aquela seita ou igreja é o instrumento único e exclusivo da salvação e do progresso humanos.
Ela supõe que esta ou aquela área de conhecimento científico nada tem a ver com outras formas de saber. Ela desliga as palavras dos fatos. Ela usa o discurso da religião convencional, da liberdade econômica, da ciência moderna e da democracia política para ignorar, disfarçar ou justificar erros costumeiros e velhos hábitos negativos, entre eles a ganância materialista, a destruição da natureza, a injustiça social, a guerra e a corrupção na política.
Diante de tais problemas e desafios, o que fazem os estudantes da teosofia original?
Eles não são insensíveis. Não estão desatentos. Vendo a massa imensa de fontes de sofrimento e o processo constante de realimentação da ignorância que produz a dor, eles optam por não combater simplesmente este ou aquele efeito externo. Eles procuram identificar e compreender a causa central dos dilemas humanos. A origem da dor, em última instância, está na ignorância interior que produz a visão fragmentária da vida. E tal ignorância é frequentemente mais grave nos meios políticos, sacerdotais e acadêmicos, do que na consciência dos cidadãos simples movidos pela boa vontade.
Sabendo disso, podemos perguntar-nos qual ação é mais eficaz quando se tem como meta a libertação individual e coletiva.
A resposta, para alguns, está na teosofia clássica. A compreensão da lei do carma e da reencarnação coloca diante do espírito humano um panorama de amplitude ilimitada. Ela o liberta das paredes estreitas e rígidas da prisão mental e emocional criada pela visão fragmentada. Graças a ela, o cidadão se descobre fundamentalmente imortal. Ele percebe que tudo o que colhe hoje foi plantado um dia por ele mesmo e por outros seres próximos a ele, e decide trabalhar mais conscientemente no sentido da libertação. Para isso, o cidadão necessita de uma ação teosófica coordenada e eficaz.
Fundado em sete de setembro de 1875, o movimento teosófico visa estimular a expansão de buddhi-manas. Este propósito transcendente fica claro pela leitura dos três objetivos do movimento, que são:
1) Formar o núcleo de uma Fraternidade Universal da Humanidade, sem distinção de raça, credo, sexo, casta ou cor;
2) O estudo de religiões, filosofias e ciências antigas e modernas, e a demonstração da importância de tal estudo; e
3) A investigação das leis inexplicadas da Natureza e dos poderes psíquicos latentes no homem.
Estas são, em termos gerais, as metas do movimento esotérico moderno. É em função delas que a Loja Independente trabalha. No entanto, a função da LIT se desdobra em pelo menos dois níveis:
A) De um lado, ela trata de preservar e divulgar o ensinamento original sem distorções, e amplia, sem pressa, um pequeno núcleo de teosofistas que se esforçam por compreender e vivenciar a sabedoria.
B) De outro lado, a LIT busca irradiar – quase em silêncio e pelo exemplo interno, anônimo e invisível – uma compreensão vivencial da unidade de todas as coisas. Seus estudantes sabem que deste modo podem ajudar com mais eficiência o despertar da consciência humana universal. Palavras são usadas, mas a ação essencial ocorre em silêncio.
A prática pedagógica da teosofia original fica mais clara quando se examina algumas questões práticas inevitáveis na vida de quem busca a verdade.
Por exemplo:
* O que significa, na vida de cada um, o despertar de uma nova consciência universal e eterna das coisas?
* Esse despertar apenas acrescenta algo novo, ou também provoca perdas e renúncias? Será sempre agradável perder ilusões?
* A quem cabe dirigir e determinar o ritmo do aprendizado interior individual?
Estas são questões que se deve reexaminar regularmente ao longo da caminhada, tanto no plano individual quanto no plano coletivo. A bênção virá aos poucos, ao lado da renúncia e da perda inevitáveis, e trará consigo lentamente a aquisição duradoura do desapego, da sabedoria e da felicidade incondicional.
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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.
Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.
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