Livro Clássico Aborda a
Região de Nilguiri, no Sul da Índia
Joana Maria Pinho
Ler é um ato de liberdade que rompe barreiras espaciais e temporais. O único obstáculo que podemos encontrar na leitura de um bom livro teosófico está em nossa incapacidade de voar junto com as palavras e o espírito que o anima. Vencemos essa dificuldade à medida que o ato de ler com a alma passa a ser um hábito.
Através da leitura é possível viajar até lugares fisicamente inacessíveis e conhecer povos das mais diversas tradições. Não importa quão distantes eles estejam no tempo ou no espaço, pois um bom livro funciona como uma ponte ligando a consciência de quem lê à substância da realidade descrita. É o caso do livro “O País das Montanhas Azuis”. Nele Helena Blavatsky escreve sobre as montanhas de Nilguiri, no sul da Índia, e as tribos que ali viveram por muitos séculos sem que alguém soubesse de sua existência. [1]
Essa área montanhosa era para os indianos um território enfeitiçado e morada dos deuses. Por isso nenhum mortal deveria tentar descobrir seus caminhos. Existiam muitas histórias, lendas e superstições em torno das montanhas azuis e ninguém se aventurava a descobri-las. Até o século XIX as montanhas e seus habitantes eram inacessíveis para a Índia, não por causa do terreno montanhoso ou qualquer dificuldade física, mas devido a sentimentos como respeito, devoção e medo.
Nilguiri viria a desvendar ao mundo sua beleza e magia após a curiosidade de dois ingleses, Kindersley e Whish, que fizeram uma expedição. A obra “O País das Montanhas Azuis” descreve essa aventura através dos relatos publicados na época e reunidos pela autora, e inclui o depoimento da própria Blavatsky sobre uma visita que ela fez àquelas montanhas em 1883. É como se nós estivéssemos respirando o ar puro da região, no século XIX, e vendo com nossos próprios olhos a beleza misteriosa de Nilguiri.
A audácia dos “ocidentais” não proporcionou apenas a descoberta de um mundo natural que ninguém havia sequer imaginado ser possível existir em solo indiano. Como assinalado por Helena Blavatsky, “as Montanhas Azuis são realmente uma das regiões escolhidas pela natureza para as suas exibições universais”.[2] A humanidade teve também conhecimento de duas tribos cuja origem ainda hoje é um mistério para os acadêmicos: os kurumbes (anões) e os toddes (gigantes).
Conhecer algo dessas duas tribos e de outras que se apresentam como indecifráveis é aprofundar o conhecimento da história da humanidade. Os kurumbes, na altura em que foram descobertos pelos ocidentais, eram vistos como selvagens, excelentes caçadores e praticantes de feitiçaria. Eles apenas respeitavam os toddes. Os toddes não tinham qualquer deus e não possuíam armas. Mesmo vivendo num ambiente em que havia muitos tigres e elefantes selvagens, os toddes misteriosamente nunca foram atacados por eles. Na sua linguagem não existia nenhum termo para mentira. Eram vegetarianos e sua vida se concentrava em torno de seus búfalos sagrados.
O mais fantástico deste livro é que, através da história real, dos relatos, da pesquisa e da reflexão sobre essas descobertas, Helena Blavatsky faz nele um manifesto contra o materialismo do ocidente. De certa forma, os kurumbes e os toddes representam dois aspectos da natureza humana: a escuridão e a luz, o mal e o bem. Os kurumbes odeiam, os toddes amam. Os kurumbes produzem doenças naqueles que odeiam, e os toddes curam os doentes através do amor. A sabedoria do povo todde ensina:
“O fogo do sol (…) está composto pelos fogos do amor. Cada homem bom, branco e preto, é um todde. Os homens malvados não amam; por isso não podem subir ao sol.” [3]
O sol é um símbolo do eu superior ou alma espiritual. Helena Blavatsky escreve:
“Não conheço exemplo de um todde que, tendo aceitado tomar conta de alguém, não o haja curado. Mas só o aceita poucas vezes. Nunca se ocupará de um bêbado ou um libertino. ‘Cuidamos pelo amor que emana do sol’, dizem os toddes, ‘e o amor não atua sobre um homem ruim’.” [4]
Cabe zelar pela bondade, que possibilita a cura.
O bem é o grande poder e constitui a lei. O “mal” é apenas o bem que ainda não aconteceu, o lugar da cura a ser providenciada no futuro, quando as condições permitirem.
NOTAS:
[1] “O País das Montanhas Azuis”, de Helena P. Blavatsky, Thot Editora, Brasília, 1989, 136 pp.
[2] Obra citada, p. 39.
[3] Obra citada, p. 107.
[4] Obra citada, p. 109.
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Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.
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