A Arte de Fazer Descobertas Felizes
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
À medida que o peregrino avança na direção correta, um chão estável parece
materializar-se sob os seus pés. No entanto a firmeza é mais interna do que externa.
 
 
 
A ocorrência aparentemente casual de acontecimentos benéficos não se deve de fato a mero acaso. Só a forma externa da Serendipidade parece ser randômica ou gratuita.
 
O estudante de filosofia não deve alimentar expectativas pessoais em relação a estas coincidências felizes, porque elas só ocorrem de forma durável quando chega a hora certa para a bênção que é o surgimento do bom carma amadurecido. E isso ocorre com base na Lei dos Nidanas, que ensina sobre a interligação das causas. Os acontecimentos nunca fluem isoladamente, exceto na imaginação dos mal-informados.
 
Há correntes de Causas Interligadas que são luminosas e levam à bem-aventurança. Podemos aprender a fazer parte delas. Nossos esforços nesta direção devem ser altruístas e de longo prazo. Precisam ser planejados com autonomia por parte de cada indivíduo. Os elos destas correntes de causas e efeitos são de ouro: apontam para cima no rumo de uma felicidade interior, incondicional.
 
A chave mestra para a Serendipidade está, portanto, no fato de que devemos primeiro Plantar em condições probatórias aquilo que desejamos Colher mais adiante. Se o plantio for consistente e multidimensional, a Lei do Universo fará o resto. Uma Serendipidade duradoura surgirá inevitavelmente no momento certo, começando pouco a pouco, talvez. Os esforços do estudante de teosofia estão protegidos pela Lei do Equilíbrio.
 
O Paradoxo Hedonístico
 
Frequentemente definida como a capacidade de fazer descobertas benéficas por aparente acaso, a serendipidade implica uma relação direta com o bom carma ou carma positivo.[1] Ela não surge sem causas. Resulta do fato de que um indivíduo acumulou o magnetismo da harmonia vigilante através de ações corretas praticadas durante tempo suficiente para que a energia magnética superior se tornasse visível, através dos seus efeitos.
 
A serendipidade implica um estado de unidade com o contentamento e com os aspectos elevados da lei do equilíbrio. Isso é obtido transcendendo o território do desejo pessoal.
 
Estudos sobre a serendipidade mostram que o seu processo nada tem a ver com as situações frustrantes provocadas pelo “paradoxo hedonístico”, que afirma um fato fácil de verificar: quanto mais alguém busca o prazer, mais encontra a dor. Em outras palavras, “a tentativa de ser feliz a qualquer custo produz um sofrimento maior ainda”. [2] Esta é uma das razões pelas quais Helena Blavatsky recomenda em seu artigo “Chelas e Chelas Leigos”: “antes de desejar, faça por merecer”.
 
A serendipidade tem algo em comum com os mantras pronunciados em níveis superiores de consciência. Ela é uma sintonia com o tipo de vibração luminosa que põe o indivíduo em unidade com coisas desejáveis, que não são desejadas; com situações boas e afortunadas, que não são objeto de qualquer tentativa pessoal de obtê-las.
 
Este fato pode ser considerado “o paradoxo da sabedoria”: quanto menos satisfação pessoal o indivíduo desejar, mais verdadeiro será o seu bem-estar. Não é possível buscar a bem-aventurança como meta isolada. Você precisa merecê-la, primeiro, e depois deixar que ela venha até você do modo próprio dela, no momento adequado e no ritmo certo para ela.
 
A Fonte da Serendipidade
 
Nos níveis superiores da interconexão consciente, a serendipidade ocorre de modo natural.
 
O universo inteiro pulsa em uma comunhão sutil a cada segundo e as suas dimensões transcendentes são bem-aventurança.
 
Quando compreendemos que os aspectos inferiores da interconexão da vida e o sofrimento que ocorre neles não merecem prioridade na nossa agenda, passamos a aceitar melhor tanto a precariedade como a transcendência das situações humanas.
 
Então ficamos disponíveis para a dimensão maior e mais iluminada das conexões vitais.
 
A serendipidade não é uma mera capacidade de encontrar objetos. Não está ligada a apego, esperança e ambição. Flui livre de qualquer ideia pessoal de felicidade: resulta de autoconhecimento, autoesquecimento e autocontrole.
 
À medida que o peregrino avança na direção correta, um chão estável parece materializar-se sob os seus pés. No entanto a firmeza é mais interna do que externa.
 
NOTAS:
 
[1] “Serendipidade”: em inglês, “Serendipity”. O termo foi criado em torno de 1754 pelo pensador Horace Walpole.
 
[2] “The Travels and Adventures of Serendipity”, de Robert K. Merton e Elinor Barber, Princeton University Press, EUA, 2004, ver p. 6. 
 
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O texto acima é uma tradução de “Sacred Aspects of Serendipity”. O tema da serendipidade foi abordado antes pelo autor de modo anônimo nas edições de junho de 2015 e novembro de 2016 de “O Teosofista”.
 
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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas diversas dimensões da vida.
 
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O grupo SerAtento oferece um estudo regular da teosofia clássica e intercultural ensinada por Helena Blavatsky (foto). 
 
 
Para ingressar no SerAtento, visite a página do e-grupo em YahooGrupos e faça seu ingresso de lá mesmo. O link direto é este:
 
 
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