Uma Carta Para Estudantes de Londres
Descreve o Nidana Integrado da Libertação Espiritual
Descreve o Nidana Integrado da Libertação Espiritual
Helena P. Blavatsky
Londres na década de 1880, quando a carta a seguir foi escrita. Embora a
aparência das grandes cidades tenha mudado bastante, os desafios e oportunidades
diante da alma humana continuam iguais, no século 21, ao que eram séculos e milênios atrás.
aparência das grandes cidades tenha mudado bastante, os desafios e oportunidades
diante da alma humana continuam iguais, no século 21, ao que eram séculos e milênios atrás.
Nota Editorial de 2012:
O texto “Aprendendo com Cada Detalhe da Vida” foi publicado em português pela primeira vez na edição de novembro de 2011 de O Teosofista.
Trata-se de uma carta de H. P. Blavatsky para alguns teosofistas de Londres, e diferentes editores têm dado várias opiniões sobre a sua data exata.
O documento foi escrito provavelmente em 1887. Ele apareceu em diversas publicações periódicas em língua inglesa, inclusive “The Adyar Bulletin”, em agosto de 1910, “The Theosophical Forum”, em agosto 1948, e “The Theosophist”, em setembro de 1954. A versão que traduzimos foi publicada em “The Theosophist”, julho de 1988, pp. 386-389, sob o título de “Extract of a Letter to a London Group, 1887”. Acrescentamos algumas notas explicativas.
Quando a carta foi escrita, no período pioneiro do movimento, os Mestres de Sabedoria ainda mantinham contato externo com alguns teosofistas. Eles recolheram-se ao silêncio após a Carta de 1900. Trabalham desde então num plano mais sutil, sem contato visível ou audível. HPB explica na carta que cada estudante deve criar em torno de si, por mérito próprio e com ajuda dos colegas, uma “atmosfera” interior, impessoal e elevada.
(Carlos Cardoso Aveline)
Aprendendo com Cada Detalhe da Vida
Helena P. Blavatsky
Não posso fazer nada por vocês, se não conseguem colocar a si mesmos na atmosfera da Teosofia e dos Mestres; ou melhor, se continuam a ser incapazes de sentir ao seu redor a presença Deles – como tem acontecido até agora.
Como vocês dizem, a carne é sempre fraca, na natureza humana, e o espírito só de vez em quando tem uma vontade forte. Ainda assim, quem de vocês é capaz de dizer que esta súbita revolução em suas mentes – isto é, nas mentes dos poucos teosofistas escolhidos e fora do comum – e o despertar que ocorreu depois de um ano de apatia e inatividade, não ocorreram graças a uma orientação maior? Este é apenas um indicio e o efeito de uma causa que não pode ser atribuída ao acaso!!
Meus caros colegas, há uma concatenação ininterrupta de causas e efeitos, um Nidana [1] na vida de cada teosofista, se não na vida de cada membro da nossa Sociedade. [2] E é isso principalmente que a distingue de outras Sociedades cujas metas são a Ciência, no plano físico, ou a Fé, no plano do entusiasmo emocional, como no caso do Exército de Salvação, por exemplo. Ninguém parece ter qualquer ideia sobre a real natureza da Sociedade Teosófica – que não pode morrer, ainda que Oxford, Cambridge, e as políticas secretas da Áustria, da Alemanha e da Rússia tentassem destruí-la. Lojas individuais podem entrar em colapso. A Matriz, esteja ela localizada em Adyar ou no Polo Norte, não pode ser aniquilada, porque é o berçário e o viveiro das sociedades do século vinte. Mas é trabalhar ao longo das linhas traçadas pelos Mestres que evita o colapso das lojas e associações. E se eu puder escorar o trabalho de vocês, então devo ser usada como um pequeno pilar, ou como argamassa para as suas colheres de pedreiro, de modo que vocês cimentem e consertem as paredes rachadas da infeliz Loja de Londres. Mas se os pedreiros não colocarem primeiro o seu próprio material em ordem, e não prepararem os tijolos, o que é que o cimento pode fazer? Como poderei criar Teosofia nos corações em que a Teosofia não está mais presente, talvez de modo definitivo, e nos quais ela talvez nunca tenha estado?
Quero explicar o ponto claramente, de modo que todos saibam o que penso. Não falo dos teosofistas da loja de Londres em geral. Refiro-me apenas ao seu pequeno grupo, deixando que vocês tirem a partir disso as suas conclusões e façam seus paralelos. Acabo de mencionar o Nidana (a lei de causa e efeito) na vida de cada Teosofista que é totalmente dedicado. Devo acrescentar algumas palavras sobre isso.
Para começar, nenhum de vocês, frutos da sua geração e do seu ambiente, parece haver dado a mínima atenção a este misterioso Nidana – nenhum, nem mesmo entre os mais dedicados, jamais pensou em observar, estudar e tirar proveito das lições contidas na teia da vida que está sendo sempre tecida ao redor de cada um de vocês. No entanto, é desta teia intangível embora plenamente visível (para aqueles que quiserem ver como ela funciona), é deste livro, sempre aberto, registrado na luz mística ao redor de vocês, que vocês poderão aprender -; sim, e mesmo aqueles que não têm poderes clarividentes. O que vocês diriam se eu perguntasse: “por que razão vocês, ajudados apenas pela luz dos seus poderes de raciocínio e pelo seu intelecto no plano físico, para não falar do plano espiritual, por que motivo vocês nunca seguiram os registros diários na vida de cada um de vocês, aqueles pequenos acontecimentos de que a vida é composta, já que eles são a maior prova que existe da Presença invisível entre vocês?” Provavelmente sua resposta seria: “E como poderíamos saber disso?” Mas seguramente Mohini [3] deve ter dito a vocês! E ainda que ele não tenha dito, este é o fato. Vocês falam de contato com o Mestre ou os Mestres, dizem que têm feito um esforço para obtê-lo, e admitem que podem ter até mesmo compartilhado deste contato, “de modo inconsciente e em alguma medida”. Eu afirmo que isso é verdade, e acrescento que antes que vocês possam obter mais progresso nessa questão, vocês devem compreender aquilo que já obtiveram.
Devo confessar, e é melhor que isso fique claro, que vocês não têm recebido ajuda ativa direta dos Mestres (exceto Mabel Collins no plano psíquico), desde a última crise e a grande provação da Loja de Londres. Porque aquela provação afastou para sempre aqueles que Eles enviaram para ajudar e trabalhar, mas que foram os primeiros a abandonar o seu dever, e até se tornaram traidores, em seus corações, da causa pela qual eles haviam assumido o compromisso de lutar. Mas o teste foi válido para toda a loja de Londres, e não apenas para aqueles que haviam chamado o Carma para si. Apesar disso, embora os Mestres tenham tido que afastar-se da Loja de Londres em geral, eles nunca deixaram de observar indivíduos isolados da Loja; aqueles que permaneceram sinceros consigo mesmos e com suas aspirações pessoais, se não em relação à causa e ao bem geral, como deveriam ter feito, se fossem tanto teosofistas quanto místicos. E eu sei que os Mestres, sem interferir com o carma – algo que nem mesmo Eles têm o direito de fazer – aceleraram e em outros casos retardaram acontecimentos e circunstâncias nas vidas de todos e de cada um de vocês que são dedicados e sinceros.
Se vocês tivessem pelo menos prestado atenção àquelas casualidades e àqueles pequenos acontecimentos, a sua sequência teria sido suficiente para mostrar a vocês uma orientação superior. Mas mesmo vocês parecem ter esquecido de uma grande verdade dita por um de vocês, isto é, de que “o mundo da rotina diária em que as pessoas vivem e se movimentam e têm o seu ser como se não houvesse outro é apenas uma aparência”, e “atrás destas aparências há, oculta, uma realidade muito mais elevada e mais nobre”. Vocês não viram, em alguns acontecimentos, nada a que estas palavras poderiam ser aplicadas, e assim não puderam aplicá-las a vocês mesmos, nem àqueles com quem estão trabalhando em seu grupo. No entanto esta é a primeira regra na vida diária de um estudante de ocultismo; isto é, nunca deixar de prestar atenção às menores circunstâncias do que ocorre, seja em suas vidas ou nas vidas dos seus colegas de trabalho; registrar e colocar os fatos em ordem, nos registros, mesmo que não estejam relacionados com a sua busca espiritual, e então ligar (religare) todos os fatos comparando notas com os registros dos outros estudantes, e alcançando, assim, o seu significado interior. Isso vocês devem fazer pelo menos uma vez por semana. É a partir destas totalizações que vocês podem descobrir a direção e o caminho a seguir. [4] É o fenômeno de “transferência de pensamento” e de “adivinhação” de pensamentos, de Bispo e Companhia, aplicado aos acontecimentos da vida diária. Porque, uma vez comparados e resumidos, estes acontecimentos (os mais corriqueiros são às vezes os mais significativos) a sua associação e o rumo deles revelariam a vocês – assim como um movimento quase imperceptível de um músculo na mão (com a qual ele está em contato) revela ao Bispo a direção que ele tem que seguir – o caminho que vocês devem seguir para chegar à verdadeira luz. Trabalhando sozinho ninguém pode conseguir isso, mas quando há vários, é comparativamente fácil. Este é o método usado para os chelas [5] mais jovens, e ele permite alcançar vários objetivos. A atenção dos aprendizes se concentra sobre os númenos [6] dos mais simples fenômenos ou acontecimentos da vida (eventos guiados e preparados pelo Guru invisível). A atenção deles abandona as coisas que iriam interferir com o seu treinamento mental. A prática aguça e desenvolve a intuição deles, e ao mesmo tempo faz com que se tornem gradualmente sensíveis às menores mudanças na influência espiritual do seu Guru.
Mas se, agindo de acordo com o costume social, os membros do seu grupo preferirem ver em cada acontecimento ou casualidade da sua vida o efeito de uma causa provocada por seu próprio livre arbítrio, ou por mero acaso, então vocês nunca estabelecerão em seu grupo a primeira condição necessária: uma perfeita unidade de pensamento e harmonia entre os seus seres espirituais. Vocês não podem avançar diretamente a partir dos princípios Universais, mas devem começar pelos aspectos específicos. A aritmética e a soma vêm antes da matemática e da metamatemática. Uma vez que um místico dedicado ingressa na Sociedade Teosófica [7], ele passa a ser, de modo inconsciente e invisível para ele, colocado em um plano muito diferente daqueles que o rodeiam. Não há mais circunstâncias banais ou sem significado em sua vida, porque cada uma delas é um elo colocado de propósito na corrente de acontecimentos que deve levá-lo para frente, até o “Portão Dourado” ou “Portal de Ouro”. Cada passo dado, cada pessoa que ele encontra e cada palavra dita podem constituir uma palavra colocada de propósito na frase daquele dia, com a intenção de dar alguma importância ao capítulo a que ela pertence, e este ou aquele significado (cármico) ao livro da sua vida.
NOTAS:
[1] O Nidana (ou nidanas) é precisamente o encadeamento de causas e efeitos que constitui o carma de um ser humano e que o prende ao mundo externo. No budismo são mencionados doze nidanas.
[2] HPB se refere à Sociedade Teosófica. Após sua morte, em 1891, Annie Besant provocou a divisão da Sociedade original. Hoje existe um movimento teosófico marcado pela diversidade. Assim, onde HPB diz “Sociedade”, deve-se ler “Movimento”. A frase também estabelece uma diferença entre teosofistas e membros do movimento. Nem todo teosofista é membro do movimento teosófico como tal. E nem todo membro do movimento teosófico é, de fato, um teosofista.
[3] O Sr. Mohini M. Chatterjee foi discípulo de um dos Mestres de Sabedoria, e havia visitado Londres.
[4] O texto “A Carta de 1900, Na Íntegra” pode ser encontrado em nossos websites associados. Neste documento de importância decisiva, um Mestre de Sabedoria dá a chave para compreender como funciona a inspiração superior no movimento teosófico autêntico: “Em períodos favoráveis, liberamos influências elevadoras que impressionam várias pessoas de diferentes maneiras. É o aspecto coletivo de muitos destes pensamentos que pode dar o rumo correto à ação.” HPB está explicando aqui um modo de otimizar esse processo.
[5] Chelas – discípulos.
[6] Númeno – aspecto oculto, interno, essencial, de algum fenômeno.
[7] Isto é, no movimento teosófico.
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O texto acima pode ser encontrado em inglês, sob o título “Learning From Each and Every Event”, em nossos websites associados.
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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas diversas dimensões da vida.
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O grupo SerAtento oferece um estudo regular da teosofia clássica e intercultural ensinada por Helena Blavatsky (foto).
Para ingressar no SerAtento, visite a página do e-grupo em YahooGrupos e faça seu ingresso de lá mesmo. O link direto é este:
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