O Desafio de Ver e Agir
Cada Vez Mais Corretamente
Regina Maria Pimentel de Caux
O pensador Paulo Freire propõe em suas obras uma atitude eficaz sobre o aprender e o ensinar. Suas ideias estão mais atuais do que nunca, e mais urgentes. Ele escreveu:
“… Outro saber necessário à prática educativa, e que se funda na mesma raiz que acabo de discutir – a da inconclusão do ser humano que se sabe inconcluso – é o que fala do respeito devido à autonomia do ser do educando. Do educando criança, jovem ou adulto. Como educador, devo estar constantemente advertido com relação a esse respeito, que implica igualmente o respeito que devo ter por mim mesmo. Não faz mal repetir afirmação várias vezes feita nesse texto – o inacabamento de que nos tornamos conscientes nos faz seres éticos. O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros. (…) O professor que desrespeita a curiosidade do aluno, o seu gosto estético, a sua inquietude (…), o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que ‘ele se ponha no seu lugar’ ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor que se exime do cumprimento do seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência formadora do educando, esse professor transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência.” [1]
A atitude negativa dos alunos com relação à escola deveria nos deixar reflexivos. As aparências podem nos enganar. Ouvimos os professores dizerem que “os alunos não querem nada”, “são muito difíceis”, “não consigo dar aula para esses alunos-problema”, “eles não pensam no futuro”, entre outras ideias semelhantes.
O olhar superficial conduz a uma resposta superficial. Precisamos começar a ver mais fundo as questões educacionais e não contentar-nos com as aparências. Temos que desembaçar os óculos com que enxergamos a realidade, ou melhor, colocar olhos. Leonardo Boff já dizia que “todo ponto de vista é a vista de um ponto”.
Colocar-se no lugar do outro para ver amplamente suscita perguntas. Vivemos muito em busca de respostas. Para isso, temos que estar abertos a perguntas. Inicia-se assim o esforço de compreensão e sentido que vai além do que está aparente. Ver o que está dentro e o que está fora, o que está embaixo e o que está em cima, como se fosse uma só visão, é tarefa que a nossa alma se deleita em realizar.
O renascimento da sabedoria auxilia nesse processo:
“A chave que permite mudar a realidade está em ver, e perceber, a identidade interna entre a semente e a árvore, entre o pequeno e o grande, a terra e o céu, o microcosmo e o macrocosmo, o agora e o amanhã.” [2]
A pergunta é a característica da ética. Ela explica, compreende e busca o sentido. A escola, entretanto, ainda fica perdida nessa prática, pois observamos que:
“Aos olhos do cidadão comum, a sua própria individualidade parece tão importante que não é difícil compreender por que os seus valores éticos ficaram tão confusos.” [3]
O psiquiatra e escritor Augusto Cury sugere para melhorar a concentração e as relações, aliviar a ansiedade e expandir o rendimento intelectual dos alunos nas escolas:
“1) Música ambiente para aliviar a tensão. 2) Sentar-se em forma de ‘U’ (olho no olho), para melhorar a concentração. 3) Usar a arte da dúvida continuamente durante a exposição para abrir as janelas da memória. 4) Humanizar o professor (contar sinteticamente capítulos de sua vida em alguns momentos semanais) para cruzar o mundo do mestre com o do aluno. 5) Humanizar o produtor de conhecimento (contar aventuras, ousadias, derrotas, êxitos, lágrimas, rejeições) para cruzar o mundo do pensador com o aluno e estimular a arte de pensar.” [4]
Os professores podem se aproximar dos alunos conhecendo-se melhor mutuamente, vendo as tarefas do ensino sob um ângulo mais realista e contextualizado, ajudando-se mutuamente e auxiliando a sentirem-se mais fortes e melhores em relação a si próprios.
A sabedoria, a paz e a fraternidade estão presentes em todos nós, ainda que mais ou menos adormecidas. O pensador Carlos Cardoso Aveline vai além e afirma:
“Mas não só em nós: o ‘reino do pai’, a lei do equilíbrio, está também no mundo desde sempre. Cabe a cada um despertar a atenção necessária para VER e PERCEBER com clareza a ação dessa Lei Eterna em sua vida cotidiana. Deste modo, poderá agir conscientemente de acordo com a lei do universo, e participar do lento despertar coletivo para a sabedoria.” [5]
Hoje mais do que nunca precisamos da ética, do olhar que problematiza e pergunta pelo motivo. À medida que vemos “aquilo que é”, com os olhos da alma, ficamos livres da ignorância e vamos ao encontro das alegrias da vida. A compaixão universal conduz a um compromisso sagrado:
“Nunca irei buscar nem aceitarei uma salvação particular ou individual; jamais entrarei sozinho na paz da libertação final, mas sempre e em todo lugar viverei e me esforçarei pela libertação de todos os seres no mundo inteiro.” [6]
Analisando esse compromisso, o teosofista John Garrigues escreveu:
“Uma intenção deste tipo deve dominar cada pensamento e ação – e deve ser a principal força orientadora ao longo da vida -, se alguém quiser alcançar ‘a paz que ultrapassa o entendimento humano’.” [7]
NOTAS:
[1] “Mitos e Verdades do Caminho Espiritual”, de Carlos Cardoso Aveline. O artigo está disponível em nossos websites associados, assim como os artigos mencionados nas notas a seguir.
[2] Do artigo “A Arte de Enxergar”, de Carlos Cardoso Aveline.
[3] Veja o texto “A Motivação Correta”, John Garrigues.
[4] Do livro “O Código da Inteligência”, de Augusto Cury, Editora Ediouro, pp. 84 e 85.
[5] “A Arte de Enxergar”, artigo de Carlos Cardoso Aveline.
[6] “Um Compromisso”. O texto reproduz o compromisso de Kwan Yin e está disponível nos websites associados, assim como todos os demais artigos mencionados no presente texto.
[7] “A Motivação Correta”, John Garrigues.
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A educadora mineira Regina Maria Pimentel de Caux é licenciada em Pedagogia, e tem Pós-graduação em Processo Ensino-Aprendizagem e Psicopedagogia.
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Sobre a missão do movimento teosófico, que envolve o despertar da humanidade para a vivência da fraternidade universal, veja o livro “The Fire and Light of Theosophical Literature”, de Carlos Cardoso Aveline.
A obra tem 255 páginas e foi publicada em outubro de 2013 por “The Aquarian Theosophist”. O volume pode ser comprado através de Amazon Books.
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