Pomba Mundo
 
Como a Força da Mente Humana
Cria a Civilização da Fraternidade Universal
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
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O texto a seguir é uma tradução do
capítulo 27 do livro  “The Fire and Light of
Theosophical Literature”, de Carlos Cardoso Aveline, 
The Aquarian Theosophist, Portugal, 255 pp., 2013.
 
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“Tudo o que somos é resultado do que pensamos no
passado. Tudo o que somos se baseia em nossos pensamentos
e é formado por nossos pensamentos. Se alguém fala ou age
com pensamento puro, a felicidade o acompanha assim como
sua própria sombra, que nunca se afasta dele.”
 
(“O Dhammapada” budista, Capítulo 1, Versículo 2)
 
 
“Pede, e te será dado; busca, e acharás; bate à porta – e a porta se abrirá.”
 
(Novo Testamento cristão, Mateus, 7:7)
 
 
 
A visualização a seguir desenvolve a potencialidade superior do ser humano, destrói circuitos fechados de emoções negativas e abre espaço para uma regeneração cultural. Como meditação e como ação criadora, ela devolve ao cidadão a consciência de que os seus pensamentos criam o futuro, individual e coletivo.
 
A respeito da lei da natureza em que esta meditação se baseia, cabe refletir sobre a seguinte afirmação de Helena Blavatsky:
 
“Havendo uma certa intensidade da vontade, as formas criadas pela mente se tornam subjetivas. Alucinações, elas são chamadas, embora para o seu criador elas sejam tão reais quanto qualquer objeto visível  é para qualquer outro. Existindo uma concentração mais intensa e mais inteligente desta vontade, a forma se tornará concreta, visível, objetiva; o homem terá então aprendido o segredo dos segredos; ele se tornou um MÁGICO.” [1]
 
Na mesma obra, a teosofista russa acrescentou:
 
“Quando a psicologia e a fisiologia se tornarem dignas do nome de ciências, os ocidentais se convencerão da força misteriosa e formidável que existe na vontade e na imaginação humanas, sejam elas exercidas de modo consciente ou não. E, no entanto, é extremamente fácil compreender o espírito deste poder. Basta lembrar do grande axioma segundo o qual cada átomo da natureza, por mais insignificante que pareça, é movido pelo espírito, que é um só em sua essência, e do qual cada partícula representa o todo; e que a matéria, afinal de contas, é apenas uma cópia concreta da ideia abstrata.” [2]
 
Em “A Doutrina Secreta”, ao citar alguns parágrafos de Subba Row, H. P. B. escreveu sobre –
 
“…. A misteriosa força do pensamento, que pode produzir resultados externos, perceptíveis, no plano dos fenômenos, a partir da sua própria energia inerente. Os antigos afirmavam que qualquer ideia se manifestará externamente se a atenção do indivíduo estiver profundamente concentrada nela. Do mesmo modo, uma intensa vontade produzirá o resultado desejado.” [3]
 
O movimento teosófico moderno foi fundado como um projeto de longo prazo. Sua meta é evocar e tornar ativas em nossa humanidade as potencialidades mais elevadas da sua natureza, de modo que novas e melhores civilizações possam finalmente emergir. Por este motivo, encontramos nas Cartas dos Mahatmas as seguintes linhas escritas por um Mestre:
 
“…Estamos contentes de continuar vivendo como o fazemos, desconhecidos e imperturbados por uma civilização que se apoia tão exclusivamente no intelecto. Nem nos sentimos, de modo algum, preocupados com o ressurgimento de nossas antigas artes e elevada civilização, porque elas certamente ressurgirão no momento certo, e de forma ainda mais elevada, assim como os plesiossauros e megatérios em seu próprio tempo. Temos tendência a crer em ciclos que voltam sempre periodicamente e esperamos poder acelerar a ressurreição do que já passou e se foi. Nós não poderíamos impedi-lo ainda que o quiséssemos. A ‘nova civilização’ será apenas filha da antiga, e nos basta deixar que a lei eterna siga o seu próprio curso para que os nossos mortos saiam dos seus sepulcros; mas estamos certamente ansiosos por acelerar o desejado acontecimento.” [4]
 
Os Mestres e seus discípulos estão, portanto, profundamente interessados em acelerar o surgimento de uma nova civilização, que será apenas filha da antiga, e que corresponderá a um renascimento da sabedoria e das civilizações antigas.  Na mesma linha de raciocínio, na frase que conclui seu livro “A Chave Para a Teosofia”, H. P. Blavatsky previu que, se o movimento teosófico cumprir corretamente o seu dever – “a Terra será como um céu, no século 21”.
 
Ainda há tempo para isso. A relação correta entre “céu” e “terra”, ou consciência celeste e consciência humana, é um item decisivo na agenda do movimento teosófico do século 21 e além. O próximo passo da evolução humana é o uso eficiente da energia mental por parte dos seus indivíduos, de modo a alcançar metas nobres e corretas, isto é, benéficas para todos. Este não é um sonho vago. O projeto constitui uma necessidade histórica a ser cumprida gradualmente e completada no tempo certo, de acordo com a Lei do Carma. Cada cidadão pode decidir transformar-se em um centro ativo desta revolução silenciosa. Um Mahatma dos Himalaias explicou:
 
“O cérebro humano é um gerador inesgotável, e da melhor qualidade, que produz força cósmica a partir da energia baixa e bruta da Natureza; e o adepto completo tornou-se um centro do qual se irradiam potencialidades que geram correlações e mais correlações durante épocas sem fim do tempo que virá. Esta é a chave do mistério pelo qual ele é capaz de projetar no mundo e materializar nele as formas que sua imaginação construiu a partir da matéria cósmica no mundo invisível. O adepto não cria qualquer coisa nova, apenas utiliza e manipula materiais que a Natureza apresenta ao redor dele, material que durante todas as eternidades passou por todas as formas. Ele tem apenas que escolher aquela que deseja e dar-lhe existência objetiva.” [5]
 
Poucos parágrafos adiante, o Mestre expandiu a ideia:
 
 “…Cada pensamento do homem, ao ser produzido, passa ao mundo interno e se torna uma entidade ativa associando-se – amalgamando-se, poderíamos dizer – com um elemental, isto é, com uma das forças semi-inteligentes dos reinos. Ele sobrevive como inteligência ativa – uma criatura gerada pela mente – por um período mais curto ou mais longo, proporcionalmente à intensidade da ação cerebral que o gerou. Desse modo um bom pensamento é perpetuado como força ativa e benéfica, um mau pensamento como demônio maléfico. Assim, o homem está constantemente ocupando sua corrente no espaço com seu próprio mundo, um mundo povoado com a prole de suas fantasias, desejos, impulsos e paixões; uma corrente que reage sobre qualquer organização sensível ou nervosa que entre em contato com ela na proporção da sua intensidade dinâmica. A isto os budistas chamam ‘Skandha’. Os hindus lhe dão o nome de ‘Carma’. O adepto produz essas formas conscientemente; os outros homens as atiram fora inconscientemente.” [6]
 
Os Três Objetivos para a Construção do Futuro
 
Desde o século 19, o desenvolvimento das potencialidades sagradas da humanidade faz parte do dharma e do dever do movimento esotérico.  
 
O primeiro dos três objetivos do esforço teosófico inaugurado em 1875 é o estímulo à prática da fraternidade universal. Isso deve ser realizado sabendo-se que a força do exemplo é o alicerce das palavras.
 
A segunda meta é a busca da sabedoria ensinada pela literatura filosófica de todos os tempos e de todos os povos, com prioridade para a sabedoria oriental, que é mais antiga. O terceiro objetivo é a investigação dos poderes latentes na consciência de cada ser humano.
 
As três metas são inseparáveis, e o terceiro objetivo deve ser buscado como mero instrumento para alcançar o primeiro. O progresso real começa quando compreendemos um princípio básico: o egoísmo, que brota da ignorância, é um beco sem saída e provoca um circuito fechado de infelicidade.
 
A meditação a seguir constitui uma prática altruísta. Ela é uma resposta ao desafio lançado por um Mestre através da afirmação de que a humanidade é a grande órfã, já que até agora são relativamente poucos os indivíduos que desenvolveram um sentido de responsabilidade pessoal pelo seu futuro. [7]
 
Aquele que pratica este exercício de contemplação coloca os poderes latentes da sua consciência a serviço da Fraternidade Universal, conforme exige, expressamente, a lei do Carma e da Evolução. Esta é, pois, a maneira correta de desenvolver as potencialidades transcendentes da mente humana. É, também, o modo mais prático de alcançar a felicidade.   
 
A meditação pode ser realizada individual ou coletivamente. Uma boa ideia consiste em fazê-la acontecer em associações comunitárias. É preferível meditar em um lugar onde haja silêncio e ar puro. A sua prática regular produz efeitos mais fortes do que a sua realização como fato isolado, mas ela é sempre benéfica e, ainda que seja feita uma só vez, deixa sua marca invisível e indelével de sintonia com o alvorecer.
 
O Despertar Planetário
 
1)  Sentado, com os pés bem plantados no chão, as partes superiores e inferiores das pernas formando ângulo reto, fique com a coluna ereta.
 
2)  Respire calma e profundamente. Deixe de lado as preocupações com assuntos pessoais de curto ou médio prazo.
 
3)  Relaxe os pés, depois as pernas, as mãos, os braços, e finalmente os músculos do rosto. Sinta o contraste entre a musculatura relaxada e a coluna vertebral firme. Assim  devemos ser diante da vida: firmes no essencial e flexíveis no que é secundário.
 
4)  Lembre-se de que esta não é a sua primeira encarnação, e pense, lentamente, no sofrimento acumulado da humanidade durante os últimos milênios.  Pense nos níveis atuais de dor humana nos diferentes continentes de nosso planeta.  Observe seu próprio sofrimento: mesmo esperanças e aspirações trazem consigo frequentemente formas de sofrimento.  Reflita sobre o fato de que é possível transmutar o sofrimento em sabedoria. Reconheça que o apego à dor não é necessário. Admita que todo obstáculo é fonte de lições. Perceba com calma que a tarefa do ser humano é crescer interiormente, fortalecendo a vontade de fazer e viver o melhor.  Contemple o próximo passo da evolução: ele consiste em cada cidadão aprender em sua própria alma a arte de viver com altruísmo impessoal. Assim se irradia pouco a pouco uma felicidade durável para todos.
 
5)  Visualize os seres humanos em todas as partes do mundo tirando lições de cada desafio que enfrentam. Veja a sabedoria e a solidariedade permeando as relações entre todos em cada continente. Imagine a humanidade a despertar agora para a força ilimitada da ajuda mútua.  Mantenha diante de si, por um instante, a imagem de cada cidade e comunidade rural acordando para a solução fraterna dos seus problemas. Enxergue todos os lugares como centros ativos de uma civilização global baseada nos princípios da autorresponsabilidade e da ajuda mútua.  
 
6)  Veja o rádio, a televisão, os meios impressos de comunicação social e os websites promovendo ativamente metas pacíficas que visam o bem-estar comunitário. Observe com calma a civilização de hoje enquanto ela constrói mecanismos de solidariedade, no vasto e inspirador mundo da sua própria mente criativa. Fortaleça seu compromisso pessoal com esta visão de planeta. A humanidade é o círculo de Pascal, cujo centro está em todas as partes, e você seguramente não é uma exceção.    
 
7) Visualize por alguns instantes dirigentes políticos sinceros partilhando e facilitando o processo do despertar planetário. Lembre-se de que aquilo que é difícil tem mais mérito. Basta que a meta seja digna. Imagine a sua cidade e o seu país como territórios em que reina a ética. Veja-os prontos para uma nova era de fraternidade entre todos os seres. Guarde consigo esta imagem revolucionária. Mantenha-a nítida em sua mente e coração. Veja a si mesmo como corresponsável pelo despertar coletivo.
 
Faça com que esta visão elevada permaneça mais forte que os sentimentos antigos e rotineiros. Deste modo você desenvolve corretamente o poder da sua vontade, enquanto acelera o surgimento da civilização do futuro.
 
O século 21 permite que haja uma satisfação crescente no processo pelo qual percebemos que todos nós somos como o velho Atlas mitológico e carregamos conosco o peso do mundo. Embora cada um de nós seja corresponsável pelo planeta, à medida que emerge a ética planetária o mundo se torna mais leve, e as novas gerações de almas adultas assumem sem amargura a tarefa de zelar pelo bem comum.  
 
Om, shanti. Paz.
 
 
NOTAS:
 
[1] Helena P. Blavatsky, em “Isis Unveiled”, Theosophy Co., Los Angeles, Vol. I, p. 62.  Veja também a edição brasileira, “Ísis Sem Véu”, Ed. Pensamento, volume I, capítulo II.
 
[2] “Isis Unveiled”, vol. I,  p. 384.  Na edição brasileira, “Ísis Sem Véu”, volume III, p. 88. A partir destas palavras, H. P. B. continua discutindo o assunto durante várias páginas.  
 
[3] “The Secret Doctrine” (“A Doutrina Secreta”), edição original em inglês, Theosophy Co., Los Angeles, Vol.  I, p. 293.
 
[4] “Cartas dos Mahatmas”, Editora Teosófica, Brasília, volume I, Carta 11, pp. 81-82.
 
[5] “Cartas dos Mahatmas”, Editora Teosófica, Brasília, edição em dois volumes, ver volume II, pp. 341-342. 
 
[6] “Cartas dos Mahatmas”, Editora Teosófica, Brasília, edição em dois volumes, ver volume II, p. 343. 
 
[7] Veja “Cartas dos Mahatmas”, Editora Teosófica, volume I, Carta 15, p. 101. Em cerca de 20 linhas dedicadas a este assunto, podemos ver estas palavras do Mestre: “Pois é a ‘Humanidade’ que é a grande órfã, única deserdada desta terra, meu amigo. E cada homem capaz de um impulso altruísta tem o dever de fazer alguma coisa, mesmo que pouco, pelo bem-estar dela.”
 
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A versão inicial de  “Meditação pelo Despertar Planetário” foi publicada no livro “A Informação Solidária, de Carlos Cardoso Aveline, Edifurb, Blumenau, SC, 86 pp., 2001, pp. 72-74.
 
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Para conhecer a teosofia original desde o ângulo da vivência direta, leia o livro “Três Caminhos Para a Paz Interior”, de Carlos Cardoso Aveline.
 
Três_Caminhos_Auxiliar
 
Com 19 capítulos e 191 páginas, a obra foi publicada em 2002 pela Editora Teosófica de Brasília.   
 
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