O Saber Mais Útil é Aquele Que
Ensina a Viver de Modo Correto
Ensina a Viver de Modo Correto
Joaquim Duarte Soares
A vida é sempre pródiga em oferecer oportunidades para aquele que se dispõe a aprender. Inesgotável é o aprendizado de quem vê os outros como seus instrutores.
Portanto, importa ponderar sobre o que se quer aprender, afinal.
O mundo está cheio de conhecimentos sobre um número quase infindável de coisas; sobre mil e um pormenores e especificidades.
Os meios de informação transbordam de conhecimentos sobre quase tudo e, às vezes, sobre quase nada. Nossas escolas e universidades “enchem” a cabeça das crianças e dos jovens com conhecimentos que, segundo dizem ou creem, irão torná-los cidadãos preparados para a vida.
E para que tipo de vida são os seres humanos preparados pela educação moderna?
O diagnóstico feito há mais de um século por Helena P. Blavatsky descreve com exatidão o estado da educação atual.
Escreveu ela:
“Qual é o objetivo real da educação moderna? Cultivar e desenvolver a mente na direção correta? Ensinar os deserdados e desamparados a suportar com coragem o fardo da vida (destinado a eles pelo carma)? Fortalecer a vontade deles, inculcar-lhes o amor pelo próximo e o sentimento de interdependência mútua e de fraternidade? Formar e treinar dessa forma o seu caráter para a vida prática? Nem um pouco disto! E no entanto esses são os objetivos inegáveis de toda a verdadeira educação. Ninguém o nega; todos os educadores o admitem e fazem muito alarde sobre o assunto. Mas qual é o resultado prático da sua ação? Todos os jovens e crianças, ou ainda, toda a geração mais jovem de professores responderá: ‘O objetivo da educação moderna é passar nos exames’. Não se trata de um sistema para desenvolver a competição justa, mas para gerar e alimentar o ciúme, a inveja e quase o ódio entre os jovens, treinando-os assim para uma vida de egoísmo feroz e de luta por honras e lucros, ao invés de sentimentos fraternos.” [1]
De que vale a um marinheiro saber todos os detalhes sobre os materiais que compõem a sua embarcação, se não sabe qual a sua própria origem como ser humano, o que faz no meio do grande oceano, qual o seu destino final, nem muito menos sabe como interpretar e aproveitar as condições naturais que o rodeiam?
Não é o acumular do conhecimento das incontáveis faces que compõem o mundo ilusório das formas, que poderá conduzir o homem a compreender o porquê da vida e assim alcançar a felicidade.
Temos uma civilização aparentemente cheia de conhecimento, mas que, ao mesmo tempo, demonstra uma ignorância ou cegueira sobre o rumo a seguir.
A Teosofia está no mundo exatamente para trazer uma visão ampla sobre o destino da humanidade. Escreveu Robert Crosbie, o principal fundador da Loja Unida de Teosofistas:
“Onde iremos encontrar o verdadeiro alicerce para uma civilização renovada, que todos os homens e mulheres possam ver e na qual possam viver? Não é de mais filosofias, novas religiões ou panacéias políticas que precisamos, mas de Conhecimento, e de uma visão que vá além dos altos e baixos de uma curta vida física. O conhecimento que supera todas as formas inventadas de religião é o conhecimento da natureza do próprio homem, um conhecimento obtido por ele mesmo e dentro de si mesmo.” [2]
E cabe recordar as palavras intemporais proferidas pelo oráculo de Delfos:
“Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás todos os segredos do Universo”.
O movimento teosófico tem como seu dharma sagrado ajudar a humanidade a compreender o grande propósito da Vida, a origem comum de todos os seres e relembrar as potencialidades divinas que habitam em cada um. Como afirma a educadora Regina Pimentel, “as sementes da teosofia estão sendo plantadas”, e “a intenção pode mudar o mundo”. [3]
A atmosfera mental do planeta é preenchida por uma determinada massa de pensamentos/sentimentos e de intencionalidades de todo o tipo, que partem de cada ser humano. Nos pratos da balança cármica temos de um lado as intenções altruístas harmonizadas com o propósito das inteligências que conduzem ocultamente o processo evolutivo planetário; e de outro as intenções contrárias ao bem geral e voltadas para a satisfação de interesses egoístas.
Qualquer indivíduo que possua uma intenção nobre e contemple o bem maior está aumentando a força do prato positivo da balança cármica.
Cada um deve decidir como conduzir a sua própria vida para que ela seja a concretização das suas melhores intenções. A tarefa não é fácil, nem pode ser alcançada de forma instantânea. É feita de aproximações e tentativas sucessivas, enquanto se aprende com os fracassos e se exercita a vontade.
Nossa disposição de avançar está diretamente ligada ao campo de visão amplo que temos diante de nós. A contemplação dos horizontes da vida, que vão muito além dos limites de uma única encarnação, leva-nos a compreender que o conhecimento fundamental é aquele que nos permite ir ganhando mestria na arte de viver corretamente.
Cabe a nós manter em nossa consciência esse vasto panorama, através do qual nossas pequenas vidas pessoais se transformam em instrumentos do despertar da humanidade, enquanto seguimos o ensinamento daqueles que veem mais longe.
NOTAS:
[1] “A Chave para a Teosofia”, H.P. Blavatsky, Editora Teosófica, Brasília, 1991, ver p. 229.
[2] “The Friendly Philosopher”, Robert Crosbie, Theosophy Co., Los Angeles, 1945, ver p. 307.
[3] “A Decisão de Avançar”, texto de Regina Maria Pimentel de Caux. O artigo pode ser encontrado em nossos websites associados.
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Para conhecer um diálogo documentado com a sabedoria de grandes pensadores dos últimos 2500 anos, leia o livro “Conversas na Biblioteca”, de Carlos Cardoso Aveline.
Com 28 capítulos e 170 páginas, a obra foi publicada em 2007 pela editora da Universidade de Blumenau, Edifurb.
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