Rompeu-se em 2007 a Ilusão
de um Monopólio Organizativo
de um Monopólio Organizativo
Carlos Cardoso Aveline
“Há um caminho íngreme e cheio de espinhos, rodeado de
perigos de todo tipo – mas ainda assim um caminho; é ele que
leva até o Coração do Universo. Posso dizer a vocês como encontrar
Aqueles que lhes mostrarão o único portal secreto, que conduz ao
interior […]. Para aqueles que vencem, há uma recompensa de valor
indescritível: o poder de abençoar e salvar a humanidade. Para aqueles
que são derrotados, há outras vidas em que o êxito poderá ser alcançado.”
[ H.P. Blavatsky, citada por Sylvia Cranston no livro
“Helena Blavatsky”, Editora Teosófica, 1997, p. 590.]
Na primeira parte do século 21, o movimento teosófico em língua portuguesa vive uma etapa histórica renovadora. É o processo gradual de quebra de um “monopólio” que parecia haver, por parte da Sociedade de Adyar, em relação à teosofia e ao movimento teosófico.
A diversidade natural é peculiar à vida e seu surgimento merece ser examinado com atenção. Pela primeira vez desde o século 19, está surgindo de maneira articulada no Brasil e em Portugal um trabalho voltado para a teosofia clássica e livre de fantasias pseudoclarividentes.
Desde há pouco mais de um século, o dogmatismo ritualista impediu no movimento teosófico internacional a livre busca da verdade, e acabou por criar um marasmo e uma rotina que hoje possuem um efeito mortalmente entediante para os teosofistas no mundo todo.
Quando se impõe de cima para baixo aos estudantes um comportamento imutável e cegamente obediente, os resultados cármicos naturais são o tédio, o desânimo e a impaciência.
Logo após a morte dos principais fundadores do movimento teosófico começou na Sociedade Teosófica de Adyar uma tentativa, que dura até hoje, de transformar a teosofia em objeto de crença.
Sem as lideranças autênticas de H. P. Blavatsky, William Q. Judge e Henry S. Olcott, a filosofia esotérica foi tratada como um apêndice e colocada a serviço de falsas clarividências e ritualismos de vários tipos.
Atrás da fachada de liberdade de pensamento, foi decretada em nome da “lealdade a Adyar”, a proibição de perguntas e questionamentos considerados incômodos. O lema “Não Há Religião Superior à Verdade” passou a ser em grande parte uma frase adequada para a decoração de paredes.
As falsas ideias que alimentam o sistema referencial criado por A. Besant e C. Leadbeater são concessões feitas à ignorância coletiva da sociedade materialista. “Para baixo, todo santo ajuda”, diz o ditado popular brasileiro. Segundo a lógica das ilusões, o que importa não são princípios universais e abstratos, mas sim personalidades, fama, poder pessoal e coisas semelhantes. No plano das aparências, a mistura de mentiras e verdades tornava mais fácil e mais “popular” a caminhada. Na realidade, porém, as fantasias “espirituais” apenas levaram os peregrinos a um beco sem saída e, neste beco fechado, o desânimo sonolento é inevitável.
Graças à força da inércia, mantém-se uma egrégora sutil que mistura teosofia com vários tipos de ilusão e ambição pessoal mal disfarçada. A combinação de filosofia esotérica (como elemento secundário) com crença cega (como elemento principal) tem contaminado silenciosamente em dezenas de países as auras de milhares de estudantes altruístas e devotados ao bem da humanidade.
O prazo de validade desta teosofia com água e açúcar está basicamente concluído. É verdade que a casca externa que lhe corresponde ainda poderá sobreviver longo tempo. Mas a vida interior já está, e estará cada vez mais no futuro, em outros lugares. Fazer parte de um rebanho obediente pode produzir uma sensação inicial de segurança. Mais tarde surge a necessidade de romper com a rotina. Ao contrário da visão do movimento esotérico como um rebanho, a proposta original do trabalho teosófico revitaliza, questiona, desperta, e produz qualquer coisa menos asfixia e marasmo.
O futuro não é exatamente uma página em branco. De acordo com a lei dos ciclos, ensinada por H.P.B., a retomada do impulso original do movimento não é uma hipótese, mas um fato natural. A semente da Teosofia moderna foi plantada no período de 1875 a 1900. Para germinar, depois do período de latência, ela irá romper por mérito próprio a grossa casca burocrática e dogmática que, sob o pretexto de protegê-la, hoje a asfixia e a impede de chegar à luz do sol. O solo é fértil. A germinação já começou. Vale a pena participar pessoalmente do processo.
O melhor modo de ajudar a ST de Adyar é, realisticamente, fazer com que a teosofia autêntica ultrapasse as camadas escuras de falsidade, germine, e passe a brilhar com mais força no mundo. O material em decomposição serve bem como um adubo orgânico. A visível decadência interior de Adyar e de outros setores do movimento esotérico será reduzida na medida em que aumentar o seu contato com a Verdade. Para isso será preciso romper com a carapaça burocrática e ritualística e retomar a Chama viva da busca da sabedoria. A chave-mestra para compreender e impulsionar o processo está na literatura dada pelos Mahatmas através de H. P. Blavatsky. É no caminho da Verdade que os teosofistas de todas as agrupações poderão ter laços cada vez melhores de cooperação e amizade.
O Movimento no Brasil: do Berço ao Renascimento
O movimento teosófico brasileiro nasce em 1902. Em 29 de julho daquele ano, por influência de teosofistas de Buenos Aires, um grupo de estudantes fundou na cidade de Pelotas, no RGS, a primeira loja teosófica. Era a Loja Dharmah, que nascia na sede do centro espírita “Amor a Deus”. A pioneira loja Dharmah manteve uma publicação periódica, a revista “Dharmah”, entre 1908 e 1914.
Em 1911 a loja Perseverança, de São Paulo, criou a revista “O Teosofista”, que mais tarde passaria a ser o órgão oficial da Sociedade de Adyar no Brasil. As lojas se multiplicaram, e a seção nacional foi instalada em 1919.
É importante anotar que desde o início do movimento teosófico brasileiro a ligação internacional era feita exclusivamente com Adyar. A Sociedade de Point Loma / Pasadena já existia internacionalmente desde os anos 1890. A Loja Unida de Teosofistas foi fundada em 1909 em Los Angeles, e a partir de 1922 espalhou-se pelo mundo. Mesmo assim, até 2007, no Brasil, “Teosofia” em nosso país foi sempre sinônimo de “Adyar”.
Por este motivo os brasileiros que se decepcionavam com as falsidades do período de Besant e de seus sucessores tinham sempre que optar entre continuar na ST de Adyar ou abandonar completamente o movimento. Ao longo do tempo, grande número de pessoas, às vezes em grupos, entraram em choque com a ilusão organizada, experimentaram indignação e decepção – e não viram nenhuma alternativa prática.
O pesquisador independente percebe que, especialmente a partir dos anos 1970, diferentes teosofistas, inclusive lideranças, descobriram um após o outro a verdadeira importância de HPB. Porém, ao identificar o beco sem saída em que desembocam as ilusões besantianas, eram sempre obrigados a enfrentar a força da ortodoxia dogmática herdada dos dirigentes da primeira metade do século vinte.
Os dados e documentos analisados revelam que os episódios de resistência contra a burocracia e de enfrentamento das ilusões têm sido cíclicos.
Um dos exemplos mais significativos desse enfrentamento no Brasil foi protagonizado pelo teosofista Murillo Nunes de Azevedo (1920-2007), que fora eleito presidente nacional da Sociedade em 1973.
Escritor Eça de Queiroz Provoca Tumulto
Murillo Nunes de Azevedo era budista. Na sua edição número 01 de 1977, a revista impressa de Adyar no Brasil, “O Teosofista”, publicou – sob direção de Murillo – um texto extremamente interessante de Eça de Queiroz. O fragmento pertence à obra clássica “A Correspondência de Fradique Mendes” e estabelece uma comparação entre Jesus e Buda. Feita com o estilo irônico de Eça de Queiroz, a comparação favorece Buda.[1] Eça questiona com lucidez a imagem de Jesus Cristo que tem sido fabricada pela teologia medieval do Vaticano. Isso foi mais do que o suficiente para provocar uma tempestade política de grandes proporções.
Indignados com o que chamavam de “ataque ao Mestre Jesus”, os líderes das lojas teosóficas de São Paulo escreveram ao presidente Murillo. Eles não só protestaram contra a suposta injustiça, mas exigiram uma imediata retratação, e informaram que já haviam suspendido “provisoriamente” a circulação da revista.
Na carta, as Lojas teosóficas de São Paulo aproveitaram para acrescentar algo mais. Segundo elas, era também inadmissível que “O Teosofista” mostrasse pontos falhos do espiritismo. Isso havia ocorrido com a publicação de um artigo de Geoffrey Hodson. A carta coletiva está datada de 28 de abril de 1977 e é assinada, entre outros, por líderes teosóficos de grande porte como Cora Salles, Cinira Riedel de Figueiredo, Joaquim Gervásio de Figueiredo, Carmen Piza e Olinda Pugliesi. Os arquivos históricos dos nossos websites associados possuem uma cópia do original com as assinaturas dos dirigentes paulistas em caneta azul, e estão à disposição dos pesquisadores.
Revoltado com as críticas de Eça de Queiroz aos dogmas fabricados pelo Vaticano, o vice-presidente nacional da ST de Adyar, José Hermógenes, distribuiu documento circular datado de 29 de abril de 1977. Nele, anunciava a sua renúncia ao cargo e deixava claro que tomava esta atitude por amor a Jesus, a quem chamava, reverentemente, de “meu Mestre”. Anos mais tarde, Hermógenes se tornaria conhecido por ensinar Hatha Ioga em vídeos e livros e por ser um discípulo cegamente devotado do guru indiano Sai Baba.
São indubitáveis, naturalmente, a sinceridade e o altruísmo das pessoas envolvidas no episódio. Elas são merecedoras, sem exceção, do nosso respeito. Ao mesmo tempo, o episódio revela o estado de pobreza absoluta a que estava reduzido naquele momento o esquema pedagógico da filosofia esotérica em nosso país. Como se sabe, a Teosofia moderna tem laços sumamente estreitos com o budismo, e faz críticas radicais à teologia autoritária do Vaticano. O texto de Eça de Queiroz é na verdade tímido e limitado em suas críticas, se comparado com alguns textos fundamentais de H. P. Blavatsky e dos Mestres dos Himalaias. Veja-se, por exemplo, as Cartas 30 e 88 de “Cartas dos Mahatmas”. H.P.B. e os Mestres também mostraram com franqueza todos os erros do espiritismo.
O explosivo episódio de 1977 merece ser abordado em mais detalhes no futuro. Ele não só tem considerável importância histórica em si mesmo, mas também mostra de modo irretorquível que nem sequer um presidente nacional da ST de Adyar podia, àquela altura, expressar qualquer verdade que fosse considerada politicamente inconveniente pela ortodoxia neocristã dos seguidores de Besant. O que dizer, então, dos teosofistas que não eram presidentes nacionais? Desde 1977, não se pode dizer que tenha havido uma melhora substancial.
O Campo Magnético das Ilusões
A crise enfrentada por Murillo Nunes de Azevedo em 1977 foi apenas uma, entre uma série de eventos semelhantes. Ao longo do tempo, uma boa parte dos teosofistas que descobriram a camada de ilusões burocrático-ritualísticas conseguiu romper, no plano das ideias, com a lógica besantiana. Alguns optaram com conviver com as falsidades. Outros abandonaram a ST de Adyar e criaram grupos independentes. Esta ruptura, porém, parece ter sido mais política e formal do que substancial. Em geral, os teosofistas dotados de espírito crítico não conseguiram romper com os elementais do campo magnético sutil das ilusões. O magnetismo mayávico vai muito além das meras ideias e inclui fatores inconscientes e semiconscientes como:
1) O estilo personalista de liderança e tomada de decisão;
2) O hábito de acreditar “com fé” ao invés de pensar e estudar por si mesmo;
3) A ambição pessoal disfarçada sob uma camada de altruísmo aparente;
4) Inúmeros equívocos conceituais e outros fatores que seria inadequado enumerar aqui.
Até o final do século vinte, foi mantido o monopólio da Sociedade de Adyar no Brasil e em Portugal. Os “hereges” tiveram sempre que acomodar-se e submeter-se a um contexto ilegítimo, ou saíram do movimento e foram obrigados a pagar o preço do isolamento. Adyar, a pequena contrapartida esotérica do grande Vaticano em Roma – detinha, aparentemente, a exclusividade da Teosofia em língua portuguesa. Até recentemente, nenhum “herege” brasileiro teve a sorte de entrar em contato real com o núcleo internacionalmente organizado que preserva a pedagogia viva de HPB e dos Mestres e a atmosfera sutil do seu trabalho original.
Esta situação, porém, não existe mais. Na primeira década do século 21, quebra-se o “monopólio” de Adyar sobre o movimento teosófico brasileiro e se abre espaço para o nascimento em nosso idioma da proposta original do movimento. A nova situação inaugura uma fase mais madura da história do movimento, mas seu começo não poderia ser mais modesto. Quem seria capaz de imaginar algo menor, ou aparentemente menos importante, que uma semente de árvore a germinar em silêncio?
Surge Uma Alternativa Saudável
O fato objetivo é que – graças aos nossos websites associados e suas diversas frentes de trabalho – um número crescente de teosofistas brasileiros e portugueses começa a perceber com clareza o esquema de “ilusões teosóficas” construído por Annie Besant e seus colaboradores. Cada vez mais pessoas, teosofistas e não teosofistas, entram em contato direto com a literatura esotérica clássica e com os setores autênticos do movimento. A ação da Loja Unida de Teosofistas, LUT, passa a ser crescentemente conhecida. Em novembro de 2009, foi registrada em Los Angeles a criação da pequena loja luso-brasileira da LUT.
A teosofia original vem resgatando gradualmente os melhores momentos e as lições mais importantes da história do movimento teosófico nos países de língua portuguesa.
Temos agora em nosso idioma diversos âmbitos autênticos de estudo e vivência de teosofia. O movimento teosófico está mais perto da sua fonte de inspiração. Identificadas as falsidades e fantasias da etapa infantil do movimento, um número crescente de estudantes descobre a importância multidimensional dos ensinamentos originais dados pelos Mestres e por H. P. Blavatsky. Aos poucos, o movimento absorve a realidade de que não existe um “monopólio” da Teosofia.
Há três organismos teosóficos ativos internacionalmente. O maior, a S.T. de Adyar, abandonou quase por completo os ensinamentos originais, mas isso não ocorre com os outros dois. Um deles, a Sociedade Teosófica de Pasadena (Point Loma) está presente em cerca de dez países e preserva uma posição bem mais próxima do ensinamento autêntico. O outro, a Loja Unida de Teosofistas, LUT, organizada em cerca de 15 países, é o segmento que preserva sem alterações a literatura original e até certo ponto a atmosfera original do movimento.
A quebra da ilusão de monopólio em língua portuguesa é benéfica para todos. Ela renova o horizonte. O futuro do movimento passa a ser mais do que uma mera repetição do passado. Mas, se observarmos com calma a situação atual, surgirá a pergunta:
“Que alternativas há para os membros da velha Sociedade de Adyar quando percebem que uma literatura autêntica deve ser resgatada, já que ela leva o estudante a uma sabedoria profunda, capaz de libertá-lo do tédio e da crença cega?”
De fato, há um caminho, estreito e difícil – mas ainda assim um caminho. O estudante que perseverar irá além dos muros atuais da Sociedade de Adyar, e transcenderá os seus principais ícones – Annie Besant, Charles Leadbeater e Jiddu Krishnamurti. Descobrirá então, pouco a pouco, o núcleo internacional de estudo e vivência da Teosofia autêntica, tal como foi ensinada diretamente por H. P. B. e pelos Mestres de Sabedoria. Tal núcleo existe e trabalha para o movimento como um todo e para a humanidade; e os estudantes portugueses e brasileiros que estiverem livres do apego à rotina poderão verificar isso por si mesmos.
Respondida pelo menos em parte a primeira questão, surgem outras perguntas:
“Como melhor percorrer o caminho que vai da amarga decepção com as ilusões de Adyar até a construção, em nosso país, de algo novo e autêntico? Que testes e dificuldades esta transição apresenta? A que se chegará, depois de vencer os diversos obstáculos?”
A tarefa de transitar com êxito em direção a algo novo não é simples e fácil, mas tampouco será necessário redescobrir a pólvora. A teosofia de H. P. Blavatsky, William Judge e Damodar Mavalankar está mais viva do que nunca. O núcleo de fraternidade universal que a vivencia e que a preserva conseguiu sobreviver bastante bem, porque priorizou a qualidade interior e não a quantidade externa. Optou pelo fundamental e não pelo secundário. Preferiu vivenciar o essencial, que é imperceptível no mundo físico, e procurou o poder que faz o teosofista parecer nada aos olhos dos outros, como ensina o livro Luz no Caminho. Este é um exemplo a ser seguido.
De fato, a experiência dos que trilharam o caminho ensina que é preciso não só coragem, mas também paciência. As dificuldades principais não são as visíveis. Os obstáculos visíveis são apenas a ponta de um iceberg cuja maior parte está submersa. Mas a bênção oculta é bem maior que a soma total dos obstáculos.
A verdade é que as ilusões e sementes de maus hábitos presentes na atmosfera sutil ou egrégora da ST de Adyar (como ocorre com qualquer grupo que esteja desorientado) são absorvidos inconscientemente pelos seus estudantes. É por este motivo que, até o início do século 21, grande parte dos membros da Sociedade, quando confrontados com os fatos inquestionáveis da falsificação autoritária do ensinamento, não conseguia reagir racionalmente, pelo menos no primeiro momento. O problema ainda existe e não deve ser subestimado. Só gradualmente os estudantes de Adyar podem transferir sua devoção e seu compromisso da burocracia e das personalidades para os princípios universais da filosofia teosófica.
Como Funciona a Proposta Original
O esquema pedagógico da teosofia autêntica, transmitida por H.P.B., coincide com a ideia básica do método educacional do brasileiro Paulo Freire – o princípio da autonomia do aprendiz – e é muito diferente da prática pedagógica desenvolvida nos movimentos “esotéricos” convencionais, que apelam para a memorização, o ritual e a obediência.
Contra fatos não há argumentos. Os teosofistas têm cada vez mais elementos a seu dispor para perceber por si mesmos que os Mestres de Sabedoria e seus discípulos podem inspirar diretamente os estudantes que tenham vida limpa, mente aberta e coração puro. Também é possível perceber que nem os Mahatmas, nem os seus discípulos ou os candidatos ao discipulado necessitam de burocracias ritualísticas. Ao contrário: estas últimas são armadilhas traiçoeiras e obstaculizam o trabalho altruísta pela humanidade.
Naturalmente, nem todos percebem o joio e o trigo. E mesmo entre os que identificam mentalmente joio e trigo, nem todos têm a coragem de optar pelo trigo. Alguns, ainda preferem o joio, porque ele é o caminho cômodo.
Para aqueles que têm a coragem de escolher a verdade, o trabalho de libertação pessoal apenas começa. É necessário desenvolver uma autoconfiança interior que os capacite a pensar por si mesmos em todas as situações, a dizer o que pensam, e a agir conforme sua consciência. O discernimento e o altruísmo são igualmente importantes. Outras armas úteis são a paciência, a perseverança e a capacidade de renunciar e esquecer de si mesmo.
É afastando-se da ilusão pseudoteosófica e evitando ao mesmo tempo cair na armadilha do orgulho pessoal que os estudantes podem trilhar o caminho do meio e romper adequadamente não só com uma corporação pseudoteosófica, mas também com o magnetismo oculto e sutil que há por trás dela, e que é mais difícil de identificar. Só assim, e gradualmente, eles se verão livres do clima sutil alimentado por pretensões pessoais, fantasias de importância e devoção a personalidades, que caracteriza a herança do período de Besant e Leadbeater (1895-1934).
Fraternidade universal implica altruísmo, e teosofia autêntica é renúncia. Não se trata de renunciar à verdade, nem à independência, nem à responsabilidade individual. Ao contrário. Estes três elementos da caminhada são reforçados na vida de quem busca ser aprendiz dos verdadeiros Mahatmas. Para vivenciar a teosofia é preciso renunciar à comodidade da ignorância espiritual. Esta é uma tarefa de autorrecuperação. Ela requer a obtenção gradual de autoconhecimento, autorrespeito, autoconfiança e autocontrole; e também uma postura sinceramente solidária em relação à vida como um todo.
Certas condições práticas tornam possível esquecer o pequeno “eu” e ser solidário de coração. Estas condições se concretizam quando o indivíduo entra em contato com coisas que são mais interessantes do que o seu próprio mundo pessoal. Quando o seu eu interno busca só o caminho mais elevado, a “lei da gravitação por afinidade” faz com que o estudante de teosofia se aproxime naturalmente do núcleo interno e autêntico do movimento teosófico.
Este núcleo não está em alguma corporação física ou “sociedade”. Está, sobretudo, em um modo mais atento e mais profundo de viver. Neste estado de atenção interior para o que é elevado o estudante esotérico encontrará os seus verdadeiros codiscípulos e colegas de caminhada. Quando ele estiver pronto, eles aparecerão. O verdadeiro ashram é um padrão altruísta de vibração, e por isso não depende de localizações físicas. Ele pode ser encontrado no interior de cada um, quando o estudante tem acesso à pedagogia correta e decide que irá tomar providências práticas para aproveitar a oportunidade.
NOTA:
[1] Veja o texto de Eça de Queiroz em nossos websites associados, sob o titulo de “Comparando Buda e Jesus”.
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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.
Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.
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